
É com muita expectativa que o Consulado-Geral do Brasil em Toronto recebe de volta, agora como cônsul-geral, a embaixadora Wanja Campos da Nóbrega. Tendo ingressado na carreira diplomática em 1984, ela ocupou diversos cargos, tanto no Brasil como no exterior. Wanja Nóbrega foi cônsul-adjunta em Paris, trabalhou na embaixada brasileira em Argel, esteve como primeira-secretária e cônsul em Washington e, em 2006, foi designada cônsul-adjunta no Consulado-Geral do Brasil em Toronto. Com o seu trabalho à frente do Setor de Promoção Comercial (SECOM), a diplomata conseguiu um grande salto no comércio bilateral Brasil-Canadá, que passou de US$ 2 bilhões para mais de US$ 20 bilhões, consolidando segmentos importantes como na área de alimentos e bebidas brasileiras. Em 2013, Wanja deixou o Canadá para assumir, como embaixadora, a representação brasileira na República Popular do Bangladesh. Finalmente, após alguns anos como cônsul-geral na Cidade do México, Wanja Campos da Nóbrega regressa a Toronto com a missão de chefiar o Consulado-Geral do Brasil.
Wave – Na última entrevista que a senhora concedeu para a Brazilian Wave, perguntamos qual o recado que deixaria aos nossos leitores. A senhora citou o poeta libanês Gibran Kalil Gibran: “saudade é uma forma de encontro”. Como é para a brasileira Wanja voltar a Toronto, agora como cônsul-geral?
Wanja – É, antes de mais nada, uma honra ter sido merecedora da confiança do Senhor Presidente da República ao me designar como Cônsul-Geral do Brasil em Toronto. É também um grande prazer e alegria regressar a esta cidade, sempre tão dinâmica e acolhedora. Por outro lado, tenho consciência do grande desafio em atender a cerca de 90 mil co-nacionais (estimativa do Consulado-Geral), que escolheram esta parte do Canadá para viverem, estudarem e trabalharem. Tenho, assim, a determinação de prestar um bom serviço para a nossa comunidade, mas também recebo esta missão com humildade, pois, o Canadá mudou desde a minha partida, assim como o Brasil vive outro momento e, portanto, os desafios que encontrarei serão bem diferentes dos que enfrentamos há 10 anos.
Wave – Se voltarmos à normalidade é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas, escreveu o líder indígena brasileiro Ailton Krenak. Como a senhora vê o mundo após a crise provocada pela pandemia?
Wanja – Uma das grandes vantagens do ser humano é sua capacidade de adaptação às novas situações e de resistir às adversidades. Temos que aprender com as lições da pandemia, reverenciar os mortos, saudar os sobreviventes, agradecer os profissionais que tanto se sacrificaram e buscar reacomodações sociais, familiares, políticas e econômicas que reflitam o novo momento. Isso tudo, naturalmente, exigirá paciência, disciplina e respeito às normas que certamente os governos emitirão.
Wave – Com as dificuldades de emprego e renda no Brasil e as barreiras impostas pelo atual governo dos EUA, há uma grande expectativa de, assim que as viagens internacionais se normalizarem, o Canadá seja o destino de milhares de brasileiros. O que a senhora diria para os brasileiros que desejam viver no Canadá?
Wanja – Acredito que o momento, mais do que nunca, exigirá por parte dos brasileiros muita cautela e planejamento. Decisões precipitadas ou precariamente planejadas podem levar à frustração, decepção e perdas significativas. O Canadá prima por disponibilizar informação oficial na internet sobre várias disciplinas; assim, evitar uma única fonte de informação (muitas vezes parciais e/ou pessoais), mas sim usufruir da transparência de informação oficial e da abundância de comunicação profissional trará benefícios para melhor organizar e preparar uma eventual vida nova.
Por outro lado, aproveito esta oportunidade para mencionar que o Consulado-Geral do Brasil em Toronto tem tomado conhecimento de casos de estrangeiros não admitidos no Canadá – inclusive brasileiros – que são obrigados a permanecer no aeroporto até o primeiro vôo de volta ao país de origem. É importante lembrar aos viajantes brasileiros que o Canadá ainda se encontra em estado de emergência sanitária e que as exceções previstas em lei para a entrada de estrangeiros são restritivas. Não são permitidas viagens consideradas não-essenciais, mesmo para portadores de vistos apropriados (estudo, trabalho). Nesses casos de inadimissão, o Consulado não possui autoridade para intervir e nossa atuação está limitada a garantir tratamento digno aos cidadãos brasileiros impedidos de entrar no país. A decisão do agente de imigração é soberana, nos termos das convenções internacionais, e o visto não é garantia de entrada.
Recomendamos vivamente que os viajantes com destino ao Canadá se assegurem de ter todas as qualificações exigidas para entrada, inclusive plano de quarentena de 14 dias no local de destino. Eu, inclusive, ao entrar neste país, mesmo com visto diplomático, fui obrigada a apresentar um plano de quarentena, que foi rigorosamente cumprido. O governo canadense disponibiliza informações online atualizadas sobre esse tema: www.canada.ca/en/immigration-refugees-citizenship/services/coronavirus-covid19/visitors-foreign-workers-students.html (Visite o post desta matéria no Brazilianwave.org para acesso direto ao link).
Wave – Embora o vírus ainda resista, tudo indica que, em breve, teremos as vacinas contra a doença. Será o maior desafio logístico já enfrentado pelos órgãos de saúde. Haverá algum protocolo para que o Consulado-Geral participe com o governo canadense na imunização dos brasileiros residentes no país?
Wanja – Acredito que ainda é muito cedo para especular sobre protocolo e/ou participação do Consulado-Geral em um futuro processo neste campo, mas, certamente, a chegada de uma vacina confiável e eficaz contra o coronavirus (SARS-CoV-2) será motivo de celebração em todos os países. No caso do Canadá, caberá às autoridades de saúde do país determinar que protocolos terão de ser observados numa eventual campanha de vacinação, os quais, naturalmente, acataremos plenamente.
Wave – Com a experiência que a senhora adquiriu nos últimos anos, como cônsul-geral e embaixadora, quais as principais metas que estão em sua bagagem para o Consulado-Geral de Toronto?
Wanja – Percebo que o crescimento da comunidade brasileira na área da jurisdição consular de Toronto – isto é, Ontario, Manitoba e Nunavut – requer um trabalho em sintonia com as associações comunitárias e organizações governamentais e não-governamentais. O ideal é buscar uma melhor integração e maior inclusão entre o diversificado universo da nossa comunidade brasileira, que, exatamente por ser diversificada, tanto enriquece a nossa presença no Canadá. Acredito que tanto eu quanto toda a equipe do Consulado-Geral, formada por outros dois diplomatas, por cinco oficiais e assistente de chancelaria e mais dezesseis agentes consulares, está habilitada e profissionalmente treinada a atender as demandas da nossa comunidade e ampliar as oportunidades comerciais para o meio empresarial.
Wave – Após a sua passagem pelo Consulado-Geral, muitas alterações foram introduzidas ao longo dos anos. Entre elas, o novo Conselho Brasileiro de Cidadania de Ontário. Mais democrático e com maior visibilidade, o Conselho atua em várias frentes. Qual a expectativa da embaixadora com relação ao trabalho do Conselho e o que pode ser melhorado em sua interação com a representação consular?
Wanja – Pela avaliação de minha antecessora e amiga, Embaixadora Ana Beltrame, a experiência do CONCID é sumamente positiva para o Consulado e para as relações Brasil-Canadá de modo geral. O atual Conselho, coordenado pelo Arnon Melo, é altamente qualificado e com excelente trânsito junto à comunidade em geral, ao meio empresarial e ao governo canadense, em todos os níveis e esferas. Tenho escutado excelentes referências ao estupendo trabalho que realizam, e, portanto, estou muito entusiasmada em conhecer os demais membros do Conselho. No meu entender, a consolidação de entidades representativas da comunidade brasileira é muito positiva para estimular a inclusão de brasileiros residentes, estudantes e turistas no Canadá.
Wave – Durante os seis anos que passou entre nós, a senhora conquistou muitos amigos e, certamente, muitos outros serão somados. Para finalizar, uma palavrinha para todos os brasileiros e todas as brasileiras que vivem sob a jurisdição do Consulado-Geral do Brasil em Toronto.
Wanja – Como diplomata e servidora pública, estou muito entusiasmada em servir novamente aos brasileiros residentes no Canadá e me reconectar com a comunidade empresarial brasileira-canadense, cujas relações econômicas e comerciais datam de mais de um século. Pretendo, nesse contexto, estimular o crescente relacionamento comercial-empresarial, apoiar a nossa comunidade, incentivar um ambiente de negócios saudável e mutuamente benéfico. Muito obrigada.