Icewine. Do Canadá para o mundo

Entrevista com Ricardo Pedreira, especialista em vinhos, formado pelo Niagara College Canada

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Cachos de uvas congelados, ainda na videira, para a produção do Icewine Vidal, do canadá para o mundo
Cachos de uvas congelados, ainda na videira, para a produção do Icewine Vidal. Foto: Chiyacat | Dreamstime.ca

O Icewine é um produto que apresenta o Canadá ao mundo, em grande estilo. Este vinho, de sabor muito doce e alta acidez, só é produzido em regiões com invernos frios, mas não tão frios, e verões intensos. Um produto perfeito para o clima de certas regiões do Canadá, principalmente na província de Ontário. O fato de utilizar uvas naturalmente congeladas ainda nas videiras, colhidas manualmente e espremidas ainda congeladas, faz dele um produto caro e requintado.

A iniciativa de produção do tipo de vinho conhecido como Icewine chegou ao Canadá no final dos anos 1970, cresceu e ganhou mais força no final do século XX. Atualmente, é um dos orgulhos canadenses. Expoente nacional, este sofisticado produto ocupa hoje uma liderança mundial e o Canadá está entre os maiores produtores deste vinho licoroso.
E para nos falar com mais propriedade sobre este produto tão importante e delicioso, conversamos com Ricardo Pedreira, um baiano “nascido e criado na boa terra de Salvador” que, desde cedo, se interessou por tudo que se relacionasse com vinho.
A oportunidade de conhecer ainda mais dos vinhos chegou, para Ricardo, há poucos anos. A experiência de um intercâmbio no Canadá, lá em 2010, lhe abriu para a possibilidade de um caminho interessante e novo, na construção de uma vida diferente: “Quando eu estava fazendo meu planejamento para vir estudar no Canadá, descobri um curso (de especialização em vinho) no Niagara College. Aí, foi o casamento perfeito”. O casamento deu tão certo que, recentemente, depois de dois anos de especialização, Ricardo formou-se o como Winery and Viticulture Technician pelo Niagara College Teaching Winery.

Em meio às tratativas para encerramento do curso, festa de formatura e rotina de trabalho, Ricardo gentilmente nos concedeu uma entrevista. Agradecemos pela disponibilidade e também pela qualidade e atualidade das informações, que compartilhamos na sequência, com os nossos leitores.

Ricardo Pedreira é brasileiro, mora no Canadá, e é especialista em vinhos.

Wave – Ricardo, conte-nos um pouco mais sobre o ice wine e onde ele é produzindo, no mundo e no Canadá.

Ricardo Pedreira – O ice wine é um vinho doce, utilizado para harmonizar com a sobremesa. Pode também ser consumido puro, sem acompanhamento. Além disso, é muito utilizado em coquetéis. Os principais países produtores mundiais são o Canadá e a Alemanha. No Canadá, diz-se ice wine e na Alemanha, eiswein. É importante dizer que no Canadá, o nome “Icewine” (escrito tudo junto) é como se fosse uma marca. Todos os vinhos Icewine seguem os padrões da Ontario Wine Appellation Authority (VQA), órgão que regula os padrões da produção de vinhos em Ontário e na Colúmbia Britânica. Então, quem não segue os padrões de produção da VQA, não pode utilizar o termo Icewine, somente ice wine (escrito separado).

Wave – Quais são os pratos que melhor acompanham o Icewine?

Ricardo Pedreira – Como qualquer outro vinho doce, caso vá harmonizar com uma sobremesa, o vinho tem que ter ser mais doce do que a comida. O Icewine também cai bem com queijos mais fortes, como gorgonzola e parmesão. Também vai muito bem sozinho e em qualquer época do ano. Apesar de ser um vinho encorpado, fazendo a gente achar que não combina com o verão – que é quando as pessoas tendem a procurar por vinhos mais leves e frescos – o Icewine vai bem, sim, nessa época do ano. Principalmente por ser servido numa temperatura mais baixa, por volta de 10 graus Celsius.

Wave – Quais são as tendências de mercado e de consumo do Icewine?

Ricardo Pedreira – Boa parte do Icewine produzido aqui no Canadá é exportado para a China e para Coreia do Sul; eles adoram vinho doce. Os EUA também importam bastante.

O Icewine é um vinho caro, devido ao baixo rendimento na produção e, também, por algumas peculiaridades no processo produtivo. Por exemplo, aqui no Canadá, o Icewine é vendido em garrafas de 200 mL e 375 mL, e encontra-se o produto na faixa de preço entre CAD$25 até uns CAD$100. Dá pra imaginar o quão caro seria o produto no Brasil? Considerando a conversão do dólar + taxas…

Uma questão que aflige os produtores é o aquecimento global. Por um lado, isso ajuda a região para produzir vinhos de mesa e espumantes. Por outro lado, não ajuda na produção do Icewine, uma vez que as uvas são colhidas quando a temperatura está, no mínimo, -8 graus Celsius. Isso tem feito com que a produção de Icewine na região de Niágara, por exemplo, tenha ficado cada vez mais incerta.

Wave – Para os iniciantes que nunca provaram muitos tipos e marcas de Icewine, quais são as recomendações?

Ricardo Pedreira – Difícil escolher, mas diria que os principais produtores daqui da região de Niágara são Inniskillin (primeira vinícola comercial do Canadá após o movimento de proibição que se destacou pela produção de Icewine), Pillitteri e Peller Estates. Há vários outros excelentes produtores que merecem respeito e menção, incluindo o Niagara College Teaching Winery, onde me graduei. Dentre as variedades utilizadas na produção, recomendo provar as mais comuns: Vidal, Riesling, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon.

Wave – Icewine e a região de Niágara, no Canadá. Essa tem sido uma relação crescente. Que pontos você destacaria?

Ricardo Pedreira – Como aqui é uma região que atrai bastante turistas devido à belíssima Niagara Falls, a indústria de vinhos se beneficia muito. O Icewine é bastante procurado, principalmente por turistas não canadenses, com destaque para os chineses. Muitas empresas de turismos têm na mira os pacotes de passeios às Cataratas que incluem também visitas às vinícolas da região.

Com a popularidade do Icewine entre chineses, nasceram também as imitações baratas produzidas lá mesmo, na Ásia. Para ter certeza da qualidade do vinho, sempre procure no rótulo pelo símbolo do VQA. Ele garante que aquele produto seguiu padrões de produção e indica sua origem.

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