Ângela Mesquita

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Senhora do seu destino.

Por Fátima Mesquita

Ângela Mesquita veio para o Canadá noutros tempos, quando as portas do país estavam escancaradas e os brasileiros vinham para trabalhar pesado – e por debaixo dos panos — na construção civil ou na limpeza. Mas com força e determinação, a administradora de empresas mineira deu uma guinada no seu destino. Longe do pano de chão e da vassoura, Ângela – que não esconde o orgulho por sua trajetória – é hoje a força motriz por trás de um empreendimento de sucesso em Toronto.

Por que você decidiu fazer as malas e vir para o Canadá?
Ângela Mesquita – Sou de Governador Valadares, interior de Minas Gerais, estudei Administração de Empresas e trabalhava já há alguns anos como secretária executiva do departamento de pesquisa da CENIBRA (Celulose Nipo-Brasileira). No meu dia-a-dia, tinha contato direto com estrangeiros e estava levando a minha vida. Em 1987 cheguei ao extremo da decepção com o meu país, vendo o tamanho da impunidade e da desigualdade e decidi, então, experimentar a vida fora, nem que fosse só por dois ou três anos. Naquela época, o Canadá não exigia visto de entrada, então, tomei o primeiro avião e vim para cá trazendo comigo uma única certeza: a localização geográfica do Canadá.

Expediente adaptado ao cliente

 Você tem hoje uma agência de remessa de dinheiro. O mercado deste tipo de negócio, transferindo dinheiro de países desenvolvidos como o Canadá para países em desenvolvimento como o Brasil, é dos mais concorridos, apesar de ser caracterizado por agências de pequeno ou médio porte. Como você enveredou nesse empreendimento e o que você acha que foi a chave do seu sucesso?
Ângela Mesquita – Quando comecei o trabalho era feito todo em condições ainda bem precárias. Para atender o imigrante brasileiro, nosso horário de funcionamento era das quatro da tarde às duas da madrugada! E tinha que ser assim mesmo porque, naquele tempo, a construção e a limpeza eram, em geral, as únicas fontes de trabalho dos brasileiros. E essa é a origem da Brasil Remittance, que é a agência de transferência de dinheiro que fundei em 1993 e que é hoje uma empresa respeitada no mercado financeiro de Toronto.. Em breve, por exemplo, através de um contrato com um banco no Brasil, vamos melhorar os nossos serviços, oferecendo ao cliente uma taxa de câmbio ainda melhor e também ainda mais segurança, rapidez e transparência. O negócio já está bem encaminhado. Está passando pelos trâmites legais e em breve deve virar realidade. Com este novo serviço, espero poder também suprir a necessidades dos muitos estudantes brasileiros que têm vindo para Toronto.

Saudades daqui e saudades de lá

 Vamos voltar um pouco aqui à sua vida pessoal para falar de duas outras coisas que pesam muito na vida de qualquer brasileiro: família e saudade. Como é que você lida com tudo isto?
Ângela Mesquita – Minha querida mãe já me dizia quando eu sonhava em sair do país: ”Filha, quem sai da pátria perde a pátria”. Pura verdade! Quando estamos aqui, morremos de saudades dos mínimos detalhes da nossa vida no Brasil. Eu, por exemplo, chego a sonhar com coisas simples como aquele pastel de feira gostoso ou com os tempos em que eu ficava sentada na varanda de casa no Brasil olhando as estrelas à noite… Aí eu me organizo para visitar o país e matar as saudades. Finalmente chega o dia da viagem e eu embarco cheia de ânimo. Mas depois de uma semana de Brasil, estou louca para voltar. E é sempre assim: quando estamos aqui, queremos estar lá. Quando estamos lá, queremos estar aqui. Complicado, não é?

Família e comunidade

 Mas de certa maneira você se cerca de Brasil e de brasileiros e mantém uma ligação muito forte com a comunidade de imigrantes, não é verdade?
Ângela Mesquita – É, talvez até em uma tentativa de suprir um pouco esta carência de família e de Brasil, eu estou sempre procurando fazer alguma coisa para integrar nossa comunidade. A Brasil Remittance, bem como eu mesma, Ângela Mesquita, viramos uma espécie de central de informações. É muito comum ligarem na sexta-feira, por exemplo, querendo saber o que há de novidades para o fim de semana! E eu estou sempre promovendo festas, faço o Carnaval Brasil em parceria com o jornal dos brasileiros aqui em Toronto e que já virou tradição. E este ano ainda vou apoiar um grupo de brasileiros de coragem e amantes da nossa pátria que organizarão uma celebração do 7 de setembro, da nossa idependência. Nós queremos aproveitar a data para fazer acontecer uma espécie de festival, mostrando todos os destaques da nossa música e das nossas raízes. Estamos trabalhando nisto e todo mundo pode já se sentir convidado.

Fora isso, tem a coisa do Natal. Eu acho o Natal aqui muito triste exatamente pela ausência da família. E para quebrar um pouco este clima, fazemos um revezamento, reunindo todos os amigos, cada ano na casa de um. Chamamos isso de “Natal da Grande Família”. E o ano passado eu tive a honra, então, de receber 40 pessoas lá em casa.

 Você falou dos filhos… Quantos são, o que eles andam fazendo e qual é o seu segredo para ser imigrante, empresária e mãe ao mesmo tempo?
Ângela Mesquita – Sou mãe de três filhos maravilhosos – a Anne de 20 anos, o Steven de 18 e o Yago de 10 anos. A Anne já está cursando o segundo ano da universidade em business e o Steven segue os passos da irmã. E como mãe, mulher e empreséria, vivo mesmo numa maratona constante. Mas só consigo mesmo seguir adiante porque conto com uma excelente equipe que muito tem me ajudado. E, no final das contas, só tenho a agradecer porque hoje sou uma pessoa realizada. Tenho que agradecer a Deus, à minha familia, à equipe da Brasil Remittance, aos meus clientes e ao Canadá por esta vitória.

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