Agora é que são elas

Emily Lima é a primeira treinadora da seleção brasileira de futebol feminino.

por Luiz Humberto Monteiro Pereira
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Entrevista com Emily Lima, a primeira treinadora da seleção brasileira de futebol feminino – Fotos: Lucas Figueiredo/CBF

Depois de uma campanha um tanto frustrante nas Olimpíadas do Rio – goleou a China e a Suécia na primeira fase, mas acabou derrotada nos pênaltis pela mesma Suécia nas semifinais e ainda perdeu a disputa da medalha de bronze para o Canadá –, o futebol feminino brasileiro vive uma fase de renovação. Além de divulgar melhorias no Brasileirão da categoria, com a realização de séries A e B e o investimento financeiro maior em 2017, a CBF anunciou que, pela primeira vez na história, a seleção brasileira feminina principal será dirigida por uma técnica. Ex-jogadora de futebol e até o final de outubro treinadora do time de futebol feminino de São José dos Campos, a paulista Emily Lima, de 36 anos, vai estrear no comando da equipe nacional em dezembro, no Torneio Internacional de Manaus. “Vai ser o meu maior desafio, por ser a primeira competição. Tenho que ter muita calma com toda a minha comissão técnica. Não ir com muita sede. Todos aqui dentro estão me dando apoio. A gente sempre está aprendendo. Esse é meu objetivo aqui dentro”, explica Emily, que substitui Oswaldo Alvarez, o Vadão, que foi técnico da seleção feminina por dois anos e cinco meses.

A paixão da técnica da seleção brasileira pelo futebol começou quando ela ainda era criança e sempre contou com o apoio dos pais. Aos 13 anos, chegou à equipe do Saad. Passou por equipes brasileiras até 2003, quando foi jogar na Espanha, onde passou pelos times do Estudiantes, Puebla, Prainsa e L’Estartiton. Em 2009 foi para o Napoli, da Itália, onde, pós uma série de lesões no joelho, decidiu parar de jogar precocemente, aos 29 anos. Na seleção brasileira, fez parte da equipe sub-17, em 1997. Mas, na categoria principal, naturalizou-se e optou por defender a seleção portuguesa, onde jogou como volante 2007 a 2009. Ao voltar da Itália, tornou-se supervisora e auxiliar técnica da Portuguesa, mas na mesma temporada virou treinadora no Juventus. Em 2013, dirigiu as categorias de base da seleção brasileira até que, em 2014, resolveu se dedicar exclusivamente ao São José, um dos principais clubes do futebol feminino nacional. Lá, no mês passado, foi vice-campeã da Copa do Brasil 2016, vencida pelo Audax. “Chegar à seleção é a realização de um sonho”, comemora a técnica, que concluiu recentemente o curso “Licença B” da CBF, para treinadores de categorias de base.

Esporte de Fato – Quais são as suas metas como técnica da seleção brasileira de futebol?
Emily Lima – O primeiro sonho está sendo realizado, que era estar aqui. O segundo não é pessoal. É ver a modalidade ser reconhecida e valorizada no nosso país. Para mim, o meu maior sonho é ver o futebol feminino brasileiro onde ele merece estar. Acho que a cultura do nosso país é machista, mas a gente está quebrando essa barreira. Vou valorizar muito o que o presidente da CBF está fazendo, sua coragem de colocar uma mulher à frente da seleção principal.

Esporte de Fato – Na seleção, que novidades pretende implementar?
Emily Lima – Venho com uma missão de fazer tudo diferente do que eu vivi durante 25 anos no futebol. Então eu vou trazer o de melhor e mais moderno para a CBF. Claro que tenho que pensar muito bem o modelo de jogo que vou utilizar, porque no clube tinha algumas peças as quais eu precisava me adaptar. Aqui, posso convocar as melhores atletas brasileiras da atualidade. Então espero modernizar o máximo que eu conseguir, dentro das peças que nós convocarmos. Gosto muito do jogo apoiado. Temos que nos atualizar. Estudo muito o futebol da Europa, que é o mais vistoso que vejo hoje.

Entrevista com Emily Lima, a primeira treinadora da seleção brasileira de futebol feminino - Fotos: Lucas Figueiredo/CBF
Entrevista com Emily Lima, a primeira treinadora da seleção brasileira de futebol feminino – Fotos: Lucas Figueiredo/CBF

Esporte de Fato – Acredita que o fato de ser mulher possa gerar alguma vantagem no comando da seleção feminina?
Emily Lima – Não acho que o futebol mude com ou sem mulher como técnica. Acho que é preciso estar capacitada para o cargo. Mas as mulheres naturalmente têm mais abertura com as atletas. Eu já fui jogadora e tinha alguma dificuldade para passar algumas informações aos treinadores homens. Quando eu tive treinadora mulher, houve mais facilidade nisso.

Esporte de Fato – Como encara a possibilidade da saída de jogadoras veteranas, consideradas como referências na seleção, como Marta, Formiga e Cristiane?
Emily Lima – Ainda acredito que a Marta consiga ficar nesse ciclo de quatro anos, nesse ciclo olímpico, e a Cristiane também. Gostaria que a Formiga também, mas ela já estará com seus 42 anos e não sei. Mas eu ainda apostaria que daria para a gente trabalhar juntas nesse ciclo. Acredito nas meninas novas que estão vindo. Mas temos que ver essa renovação com cautela.

Esporte de Fato – No futebol masculino, o Brasil passa por uma renovação com a chegada do técnico Tite. Tem acompanhado o trabalho dele nas eliminatórias da Copa de 2018?
Emily Lima – Tenho grande admiração pelo trabalho do Tite. Quando ele ainda estava no Corinthians, eu queria estagiar com ele. Espero agora, com a proximidade, possamos trocar mais ideias.

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