Paradoxo brasileiro

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Devido ao COVID-19, o planeta passa por mais uma readaptação social, em que seus habitantes são orientados a estarem em estado de quarentena. Sendo essa medida possivelmente a mais eficaz para barrar a contaminação, o isolamento social tem se tornado ponto de reflexão assíduo em relação ao momento histórico atual.

O sentimento de solidão e desorientação é normal, afinal a batalha com um inimigo invisível é cruel, desonesta. Contudo, o isolamento social passou a ser inserido no cotidiano a partir do “boom” da internet – sendo uns dos ônus da era digital. O que se passou a conhecer é sensação de confinamento – o não poder sair de casa, tal sensação incomoda mais pelo fator psicológico, da obrigação em si, como se fosse uma ordem judicial.

O Brasil em tempos de pandemia percorre a esteira da polarização, essa que tem sido tendência nos mais variados assuntos nos últimos tempos. Até o presente momento, o país conta com 57 mortes pelo COVID-19, sendo 48 no estado de São Paulo. O clima é de incertezas relacionadas a quarentena, que foi colocada como prioridade pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas tem sido motivo de várias teorias paradoxais encabeçadas pelo presidente.

Jair Bolsonaro, que mantendo relação nada amistosa com a imprensa, parece estar colapsado e alheio ao atual estado de alerta mundial, alimentando discursos que são alheios a conduta que deve ser seguida por um presidente. O mandatário, em recente pronunciamento se mostrou contra a chamada quarentena horizontal, sendo adepto a quarentena vertical – em que somente idosos e pessoas no grupo de risco ficariam resguardados.

Recentemente o general Augusto Heleno, 72 anos, chefe do gabinete de segurança institucional do presidente da república, diagnosticado com COVID-19, descumpriu a orientação de quarentena e voltou a atuar no Palácio do Planalto. No centro da pandemia e também das crises presidenciais, está Luiz Henrique Mandetta, ministro da saúde, que recentemente mudou seu discurso, criticando a quarentena, enquanto o vice-presidente Hamilton Mourão, permanece defendendo tal medida, sabendo que tudo isso pode cair em seu colo.

Em grande paradoxo, o Brasil não enfrenta somente o inimigo invisível que assombra o planeta, mas também uma crise institucional. A economia teme uma recessão que ao que tudo indica, parece inevitável. O crescimento de 2% que era almejado no começo do ano, já não é possível. A Saída dos economistas liberais à principio seria a redução da quarentena, visando a manutenção de empregos, firmação do capital de giro das empresas fazendo a roda voltar a girar.

Em meio ao pandemônio, muitas dúvidas e questões nublam as nuvens que pairam pelo Brasil. Mesmo a quarentena sendo o foco principal para o sistema de saúde se organizar e evitar um colapso, o povo brasileiro está dividido entre a precaução e a preocupação econômica. Existe falta de diálogo entre os três poderes, sendo de extrema urgência para a manutenção de uma força tarefa que possa fortalecer e fornecer a população um suporte adequado. As forças armadas que de início eram um esteio do governo, estão em um uma espécie de quarentena voluntária. Em um país de dimensões continentais seria preponderante o acesso e uso dos recursos que possuem. O panorama dos três poderes parece estar mais focado nas eleições de 2022, ou impeachment de Jair Bolsonaro, do que no bem-estar social e segurança da população, deixando os governos e prefeituras dos estados em uma situação de combate praticamente autônoma.