Criar filhos é uma tarefa difícil e cheia de desafios, mas nascer em um país e educar seus filhos em outro é um desafio ainda maior.
Por Christian Pedersen
No Brasil, a gente vê filhos brasileiros de pais japoneses, italianos, alemães, entre outros países, e aqui no Canadá existem os canadenses filhos de pais brasileiros. Como é para um brasileiro criar um filho nascido no Canadá? Existe um choque cultural? A Wave conversou com alguns canadenses filhos de brasileiros.
Gabriel e Penha

Gabriel da Cunha, 19 anos, nascido em Toronto, Ontário, é filho de mãe e pai brasileiros. Ele está atualmente na província de Alberta, onde serve às forças armadas do Canadá. Segundo ele, ter sido criado por pais brasileiros foi e é uma das maiores experiências. “A casa foi sempre um ambiente louco, onde piadas eram jogadas a torto e a direito, tornando o lar um ambiente muito feliz e engraçado, para não mencionar que isso criou um senso de humor muito bom, onde aprendemos desde crianças a sempre fazer o melhor em tudo, mesmo nas situações ruins” – diz – “Minha mãe e meu pai me ensinaram princípios brasileiros, o que ajudou a me moldar, aplicar o que eu aprendi no exército e assim me destacar nas forças armadas canadenses.”
Gabriel esteve várias vezes no Brasil e fala português fluentemente. Para ele, existe uma diferença muito grande quando se compara as duas culturas. “A disciplina, os valores da vida, etc.., tendem a ser bastante diferentes”, conta Gabriel, que acha o lado festivo brasileiro algo que seria bom se fizesse parte da cultura canadense. “A cultura canadense é mais acolhedora e aberta para aprender sobre o Brasil e tudo sobre ele. Eles são até capazes de mudar seus valores e tradições com base no que eles aprendem sobre nós, enquanto sinto que a cultura brasileira pode levar mais tempo para acolher a cultura canadense e aceitar as diferenças. ”

Penha Cunha, mãe de Gabriel, está no Canadá há 30 anos, onde exerce a função de professora em uma creche. A mineira de Ipatinga diz ter sido um privilégio poder criar seus dois filhos no Canadá. “Eles têm tido grandes oportunidades neste país, não só no plano educacional, mas também financeiro, onde estão construindo seus futuros de acordo com os seus sonhos” – diz – “Tentamos nestes anos ensinar um pouco das nossas raízes, mantendo o idioma português em casa”. Aliás, ensinar a língua portuguesa foi o maior desafio para o casal. “Era sempre eu perguntando em português e eles respondendo em inglês. Tive que ser muito insistente para que começassem a falar português.”
Penha acha difícil que os filhos continuem a seguir suas raízes, mas seu filho Gabriel discorda. “Planejo 100% passar tudo que aprendi com meus pais quando se trata de cultura brasileira, disciplina, valores e assim por diante. ”
Larissa e Arilda

Larissa de Oliveira Scisci nasceu em Toronto, filha de mãe brasileira e pai italiano. A jovem de 17 anos ainda está no high school e fala um pouquinho de português. “Meu pai italiano gosta muito da cultura brasileira, então eu aprendi muito com meus pais, mesmo depois que eles se separaram” – explica – “Algo que seria bom é se a cultura canadense tivesse o carnaval brasileiro.”
Sua mãe, a promotora e organizadoras de eventos, Arilda de Oliveira, que também é chefe de cozinha no Canadá há 30 anos, acha que o maior desafio em criar sua filha em outro país foi o de não ter sua família ao seu lado para apoiá-la fisicamente e mentalmente. “Tenho que trabalhar todos os dias e dependo do apoio de outras pessoas”. Ela acha que as raízes ficam mais limitadas quando a pessoa não tem sua família por perto ou uma comunidade muito forte para apoiá-la, “mas eu tive grande ajuda da família do lado do meu ex-marido.”
Segundo Arilda, o choque cultural acontece quando leva a filha ao Brasil, “ela vê quem eu sou de verdade, porque aqui estamos moldados em uma sociedade muito diferente da nossa, o que eu respeito e sou muito orgulhosa”, diz a mineira de Governador Valadares. “O espírito livre da sociedade canadense e o multiculturalismo nos deu a liberdade de pensar e agir de maneiras diferentes, enquanto o Brasil não tem a mente muito aberta.”
Larissa esteve quatro vezes no Brasil e acredita que irá passar alguma cultura brasileira para seus filhos no futuro.