Jeitinho brazuca invade beisebol

Jô Matumoto na liga norte-americana.

Por Eliane da Fonseca, de São Paulo

Uma história de amor, perseverança e dedicação transformou o paulistano Jô Matumoto no primeiro brasileiro a ser convidado a jogar na Major League Baseball (MLB), que reúne os grandes times de beisebol dos Estados Unidos e Canadá.

O esporte no Brasil é praticado quase que apenas pela comunidade japonesa e, em especial, no estado de São Paulo. E foi ali que Jô fez carreira até seguir para o Japão, onde jogou semiprofissionalmente por seis anos. Depois, de volta à terra natal, Jô foi jogar no Nippon Blue Jays, equipe brasileira fundada por José Pett, ex-jogador das ligas menores da franquia do Blue Jays na década de 90.

Os anos se passaram, Jô Matumoto se casou com Maria Fernanda de Lucca e recebeu novo convite para jogar no Japão. O atleta fez as malas e foi para lá sozinho, mas, desta vez, ele não resistiu à distância e à saudade da esposa e retornou ao Brasil debaixo de uma chuva de críticas. Muita gente acusava Jô de estar fechando as portas do esporte para os brasileiros no Japão e toda essa pressão levou o atleta a pensar em abandonar de vez a grande paixão da sua vida.

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Quando Fernanda viu que o marido estava desistindo do seu sonho, ela enviou e-mail a todos os agentes da liga profissional norte-americana. E para a surpresa de muitos, ela recebeu uma resposta de Randall Hendricks, um dos agentes mais famosos dos EUA que, após muita insistência da brasileira, convidou o casal para um teste em Houston, Texas.

A transferência para o Canadá

O jeitinho da brasileira colocou o marido diante da oportunidade da vida dele. E Jô não desperdiçou a chance. O teste feito diante do agente foi um sucesso e Randal Hendricks tratou logo de convidar dezenas de olheiros para ver o rapaz em ação. E daí para a contratação pelo Blue Jays foi um pulo. “O Toronto Blue Jays se interessou por mim, e tive todos os motivos para dizer sim. Primeiro porque sou apaixonado pelo Canadá. Segundo, porque minha esposa é ainda mais apaixonada pelo Canadá do que eu”, afirma Jô, lembrando que a esposa passou uma temporada estudando inglês na cidade de Cambridge, em Ontário, quando estava no segundo grau.

Jô conta ainda que o fato de ser um arremessador canhoto pesou na contratação. “Os canhotos jogam de um jeito que é mais imprevisível. Não somos jogadores de velocidade, e sim de movimento”, diz Matumoto. Além disso, o atleta arremessa de lado, e não de cima. Isso faz dele uma arma a mais, bastante incomum para o time.

A estréia do atleta no Spring Training, no entanto, não foi das melhores, com o nervosismo tomando conta do paulistano. Por isso, ele passou a treinar nas ligas menores, para ter tempo de se acostumar ao beisebol norte-americano e, quem sabe, retornar à MLB. A torcida para que ele volte à liga principal é grande, mas de todo modo Jô já fez história, com sua dedicação, perseverança, paixão pelo esporte e, sobretudo, pela força do amor do casal.

A insistência e convicção de Maria Fernanda não só levaram à contratação de Jô Matumoto como a dela mesma: a brasileira foi contratada pela Hendricks Sports Management, a agência de Randal que tem clientes como Roger Clemens, Jason Schmidt, Kip Wells e Andy Pettitte, entre outros jogadores da MLB. Mesmo assim, ela não descuida do marido.”No começo, ela até assistia aos treinos. Tinha medo de que algo acontecesse comigo sem que ela estivesse por perto. Agora que tudo normalizou e estou adaptado, ela vem aos jogos. A todos os jogos. Não perde um”, afirma o apaixonado Matumoto.

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