Leia entrevista na íntegra.
A vocalista e guitarrista Luanda Jones , dona de uma voz suave que mistura bossa nova, jazz, samba, funk e que vem encantando e conquistando os canadenses há cerca de seis anos, será uma das atrações do Toronto Jazz Festival em junho. Dona de uma biografia de peso no meio musical, a carioca Luanda é filha do baterista de rock Luís Moreno, que tocou com grandes nomes como Elis Regina e Raul Seixas e da cantora e compositora, Irinéa Ribeiro, que trabalhou com Tim Maia e Cauby Peixoto entre tantos outros nomes conhecidos da MPB.
Luanda acabou de chegar de uma turnê de cinco meses na Europa e, de volta à Toronto, se apresentou durante dois dias no TD Jazz Festival, em junho.
Sempre ativa no circuito musical canadense, ela participou durante dois anos consecutivos no festival de música e cultura, “Luminato”, em Toronto. Recentemente, foi lançado seu primeiro CD, “Aquarela”, fruto do seu trabalho no Canadá, com a participação de músicos de Toronto e com composições próprias e de sua mãe Irinéa Maria Ribeiro.
Wave conversou com essa artista de voz doce e cativante, que vem ganhando o respeito e a afeição dos amantes da boa música, mundo afora.
Você nasceu numa família de músicos e começou sua carreira ainda criança, com apenas nove anos. Quando você descobriu que queria também ser uma artista?
Luanda: Tive a sorte de crescer rodeada por grandes cantoras, músicos e compositores. Lembro das festas de música que meus pais sempre davam em casa e que iam até de manhã. Sempre era incentivada por essa turma a cantar junto, abrindo vocais, todos muito elaborados. Tudo isso me encantava muito, eu simplesmente amava estar ali.
Em decorrência de todo esse envolvimento desde cedo com a música, eu já trabalhava desde os 9 anos cantando em coros e jingles infantis. Mas o incentivo maior ocorreu quando fui convidada a cantar num show de minha mãe. As músicas dela naquela época não eram nada simples, melodias complexas e letras densas. Mas bonito, muito bonito.
Quando subi no palco pela primeira vez, minhas pernas tremeram, meu coração disparou. Queria desaparecer dali..todos aqueles olhos em minha direção..estava apavorada!
Nesse exato momento, minha mãe olhou pra mim docemente e falou: canta filha! Dali em diante, tudo o que mais queria da vida era poder estar num palco.
Você sempre conviveu com diferentes gêneros musicais, do vibrante rock à música clássica, como é o estilo Luanda Jones?
Luanda: Sempre escutei diversos gêneros. Cresci ouvindo jazz, bossa, rock progressivo, soul music e a melodiosa música popular brasileira. Sempre fui exigente com a qualidade da música, que para mim significava honrar as minhas raízes.
Ao vir para o Canadá, meu coração se abriu para o chorinho, samba, maracatu, ritmos folclóricos, africanos. Tudo isso se misturou à minha essência, fazendo me abrir ainda mais pra novas experiências sonoras, multi-culturais.
O que a fez vir para Toronto?
Luanda: Conheci o Kevin, que veio a ser meu marido e o motivo da minha imigração pra cá.
Conte-nos um pouco do seu começo de carreira internacional no Canadá.
Luanda: Cheguei sem conhecer muita gente, mas logo no segundo mês vieram os convites. Abri shows de vários artistas locais canadenses, como o LaL, Lady Son, Maracatu Nunca Antes, Dominic Mancuso, Samba Squad. Logo veio o convite para cantar semanalmente numa casa de shows daqui, o que me possibiitou conhecer muitos músicos da cena de Toronto. Dali em diante, tocava sempre em casas como Lula Lounge e no Distillery District.
Em 2007 ganhei um grant (permissão) do Canada Council for the Arts (CCA) para composição, que me proporcionou compor e selecionar 10 músicas que seriam para o meu CD. Foi a primeira vez que apliquei e fiquei muito feliz de receber essa ajuda do governo do Canada, que incentiva muito a arte, mesmo sendo em outras línguas.
Em 2009 apliquei para outro grant pelo governo de Ontario, o Ontario Arts Council (OAC), o qual me proporcionou fundos para que pudesse finalmente gravar meu primeiro CD.
O CD Aquarela foi lançado em 2010 e foi muito bem recebido pela crítica e imprensa canadense, sendo muito tocado nas rádios CBC 1 e 2 e Jazz FM.
Você já participou de diversos shows e festivais, como o Luminato de Toronto, e em breve irá se apresentar no aclamado Toronto Jazz cantando Brazilian Jazz com o pianista canadense Gordon Sheard. Como surgiu essa fantástica oportunidade?
Luanda: Com o Gordon, tudo aconteceu de um convite para um show. Eu sempre o admirei muito como pianista e profundo conhecedor da música brasileira. Nesse show, que aconteceria num festival de jazz numa cidade de Ontario, o Gordon chamou grandes músicos do Jazz no Canadá. A formação era George Koller no baixo acústico, Gordon Sheard no piano e arranjos, Mark Kelso na bateria e Maninho Costa na percussão.
Daí nascia o quinteto Sinal Aberto, que é uma banda de Brazilian Jazz com um repertório próprio ( músicas do Gord e minhas) e com vários clássicos da MPB, incluindo Pixinguinha, Tom Jobim, Chico Buarque, Cartola, Milton Nascimento entre outros.
Com essa banda maravilhosa, tocamos em diversos festivais de Jazz de Ontario e existe o plano de se gravar um CD. Estamos na fase de composição e planejamento.
Você faz uma música com diversos estilos musicais, tais como o samba, o jazz e a bossa nova. Como é compor uma música tão eclética?
Luanda: É o que eu chamaria de uma “absorção musical”, consequência das minhas raízes do jazz e bossa com as novas influências que apareceram aqui, no Canadá.
O reflexo disso está no meu primeiro CD, “Aquarela”. Lá eu conto várias estórias, da primeira música até a última.
Na faixa “música”, descrevo a relação da música em minha vida. Na faixa “Menino”, conto em ritmo de bossa como vim parar aqui. A faixa “Se Segura”, descreve bem o mix do funk-soul com o samba.
Como você enxerga a música brasileira do ponto de vista canadense?
Luanda: Acho que é um mercado amplo e novo. Nossa cultura é muito reconhecida e valorizada.
Sempre quando me apresento, falo que sou carioca e que estarei cantando ali somente música popular brasileira. Posso ver o respeito na plateia através do seu silêncio e palmas, que é de maioria canadense.
Muitas vezes escuto coisas assim: “Não entendi uma palavra do que você estava cantando, mas percebi a felicidade através da melodia. E isso me fez feliz também.”
Acho fantástico poder divulgar a nossa música e a nossa cultura pelo mundo. E não me refiro somente às artes. Falo também da nossa alegria, do nosso otimismo e perseverança. São quesitos que fazem parte de nós.
A intensidade que isso reflete nas pessoas é maravilhoso.
Mas acredito que temos um plano a cumprir, e é isso que me faz seguir, sempre!
Como foi sua turnê na Europa?
Luanda: Foi gratificante, acima de tudo. Toquei, cantei, fotografei, compus e me inspirei.
Fiz muitos contatos, conheci bons músicos, alguns brasileiros. Fiz shows em Londres, Paris e Portugal. Participei de diversas jam sessions em bares de jazz, aonde sempre a música brasileira era muito bem-vinda. Os planos são de manter os vínculos e crescer ainda mais naquele mercado.
Quais os planos para o futuro? Alguma chance de retornar ao Brasil?
Luanda: Gravar um novo CD, já que tenho muitas músicas novas que foram compostas na minha viagem pela Europa.
Amo muito o Brasil, sobretudo minha cidade, Rio. Mas acredito que ainda não é o tempo de voltar, já que outras portas estão se abrindo agora.
Como aquariana, gosto sempre de descobrir o novo, viajar, colecionar amigos pela estrada. Haverá o tempo de voltar e sentirei isso quando for a hora.
Alguma mensagem a compartilhar com nossos brasileiros que vivem no Canadá ?
Luanda: Acreditem no prazer de fazer as coisas com amor, que tudo passa a acontecer. Independente do trabalho que estamos fazendo aqui, acreditar na boa vontade e bondade imperativa sempre gera bons frutos.
Estar longe de casa muitas vezes não é fácil. Deixar família e amigos, toda uma história de vida. Mas acredito que temos um plano a cumprir, e é isso que me faz seguir, sempre!
Agradeço pelo carinho e força que a comunidade brasileira sempre me deu. Isso certamente ajuda a aquecer o frio em terras canadenses.
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