Entrevista com Babu Santana

Babu Santana, participante do BBB20 e ator em Cidade de Deus e Tim Maia. (Foto: divulgaçãO)

O ator Babu Santana, 41 anos, trilhou com muito empenho e determinação o caminho para chegar ao seu sucesso atual. Ele nasceu no Morro do Vidigal, Rio de Janeiro, e ao longo da sua trajetória encontrou muitos obstáculos e desafios até conseguir se consolidar, de fato, na profissão.

Antes de ingressar na carreira, Babu teve outras atividades que, num primeiro momento, pareciam não ter nada a ver com as artes cênicas, mas que depois serviram de inspiração para que ele pudesse dar vida aos seus personagens. Ele trabalhou em uma barraca na praia de Ipanema, também foi pedreiro, eletricista e faxineiro. “Se você parar para pensar: ‘O que o pedreiro tem a ver com o ator?’ Com o meu arquétipo, as pessoas me chamavam muito para fazer esses tipos populares” – comenta.

A oportunidade para o ator ingressar na profissão veio em 1997, quando ele entrou para o grupo de teatro “Nós do Morro”, uma associação cultural localizada na Comunidade do Vidigal e que promove o acesso à arte e à cultura. E, a partir daí, os trabalhos começaram a surgir.

Seu primeiro filme lançado foi o “Cidade de Deus”, em 2002, onde Babu fazum personagem menor, mas que muito contribuiu para a sua carreira. Em 2007, com o personagem Bujiú, do filme “Estômago”, o ator teve o seu merecido reconhecimento ao conquistar diversos prêmios como coadjuvante, inclusive o “Grande Otelo”.

Em 2014, o ator interpretou a fase adulta de Tim Maia, na cinebiografia do cantor. Devido ao seu grande desempenho, a crítica lhe fez diversos elogios e novas premiações vieram, como o segundo “Grande Otelo” da carreira, mas desta vez como protagonista.
Depois disso, ele esteve em vários filmes, séries, novelas e participou do “Big Brother Brasil 20”, que lhe rendeu um injusto quarto lugar. Apesar dessa colocação, Babu ganhou muita visibilidade em todo o Brasil, foi contratado pela TV Globo e muitos outros trabalhos vieram, inclusive publicitários.

Hoje ele está no rol dos grandes atores brasileiros e não deixa a desejar para ninguém.
Além disso, ele tem uma banda, a Babu Santana e Os Cabeças de Água-Viva e lançou o próprio selo musical, Paizão Records.

E, como diz a linguagem popular, Babu “está com tudo e não está prosa”!

BRAZILIAN WAVE – Você começou a trabalhar cedo em uma barraca de praia, depois fez faxina, foi pedreiro, etc. O que todas essas experiências trouxeram para o Babu Santana de hoje?
BABU SANTANA – O Babu Santana de hoje é o acúmulo do Babu de ontem. Desde a questão da humildade, da vontade de trabalhar e crescer. Todas as profissões que eu exerci na minha vida contribuíram para isso. Eu acredito também que um artista tem bagagem para interpretação não só na sua pesquisa intelectual. Eu me lembro que havia um autor muito famoso aqui no Brasil, o Nelson Rodrigues, que se referiu aos jovens assim: “Jovens, cresçam! À medida que você cresce, vai acumulando uma bagagem de sentimentos, sensações, emoções e experiências”. Então, todas essas outras profissões e os arquétipos que passaram pela minha vida contribuíram, de certa forma, para que eu pudesse executar os meus personagens. Se você parar para pensar: “O que o pedreiro tem a ver com o ator?” Com o meu arquétipo, as pessoas me chamavam muito para fazer esses tipos populares. Enfim, o Babu de hoje é o reflexo do Babu de ontem.

BRAZILIAN WAVE – O seu primeiro filme lançado foi o “Cidade de Deus”. Embora sendo um personagem menor, como foi trabalhar com o Fernando Meirelles e estar nesse clássico do cinema brasileiro?
BABU SANTANA – O “Cidade de Deus” foi um fenômeno mundial e tudo o que acompanhou esse fenômeno contribuiu com a minha vida e com a minha carreira. Mas, uma das coisas fundamentais foi ter trabalhado com o Fernando Meirelles, com a Kátia Lund, com o Guti, com a Luciana e com a Fátima Toledo – que eu não trabalhei diretamente, mas que preparou todo o pessoal. O que foi mais fundamental para mim no “Cidade de Deus”, além do óbvio, foi a preparação. Eu era um ator de teatro quando passei no teste das oficinas do filme. Eu me lembro que o Fernando Meirelles dizia curtir muito a minha forma de interpretar, mas que eu era muito grande nos meus gestos e que aquilo não caberia no quadro quando ele resolvesse fazer um enquadramento menor. Isso para um ator experiente parece óbvio, mas para um jovem ator de teatro, como eu era na época, foi a luz que eu precisava para iniciar a minha carreira. Então, o contato com o Fernando e com a Kátia foi muito importante porque eu tive a chance de estar em uma oficina preparatória para interpretar. Eu acredito, portanto, que o “Cidade de Deus” tenha sido a minha escola de interpretação para a câmera.

BRAZILIAN WAVE – Como surgiu o papel para interpretar o cantor Tim Maia? Como foi o processo para fazer um personagem que realmente existiu?
BABU SANTANA – Eu trabalhei com o Mauro Lima, que é o diretor do “Tim Maia”, num outro filme dele chamado “Meu Nome Não É Johnny”, no qual eu fiz uma pequena participação. Foi muito bacana e o suficiente para eu ficar na cabeça do Mauro e ele me chamar para fazer um teste para o filme “Tim Maia”. Eu passei e foi muito engraçado pois, quando ele me comunicou, havia uma decisão polêmica, ou seja, a de dois atores fazerem o mesmo personagem e terem quase a mesma idade – eu acho que sou um pouquinho mais velho que o Robson. Mas, ele fez uma divisão quase que por personalidade, pois o Robson é um cara mais tranquilo, mais manso e eu sou mais explosivo. Então, ele conseguiu unir esses dois lados do Tim Maia. (…) Para mim, que sou fã do Tim Maia, essa experiência ficará marcada durante um bom tempo. “Tim Maia, muito obrigado por ter existido!”

BRAZILIAN WAVE – Além de ator, você tem uma banda e ainda um projeto audiovisual. Como você encontra tempo para tudo isso? Você acha que a sua participação no Big Brother Brasil (BBB20) ajudou a dar visibilidade para estes projetos?
BABU SANTANA – Muito, muito, muito… Eu tenho 20 anos de trabalho antes do BBB e que poucas pessoas tinham acesso. Eu não culpo as pessoas, mas o sistema do nosso país que não privilegia o cinema ou teatro, e nem a cultura em geral. Vocês que estão em outro país, para terem uma ideia, eu não sei agora, mas antes era disponibilizado 0,4% do orçamento do governo para aplicar em cultura – e isso não é nem 1%! Então, as políticas públicas sempre foram deficientes em nosso país. O meu trabalho, portanto, ficou limitado a essas pessoas que consumiam teatro e cinema. O BBB é o reality show mais popular aqui no país e, é claro, isso me ajudou a levar o meu trabalho para mais pessoas. Hoje o desafio é buscar um trabalho que não quebre nem a nossa identidade e nem toda a caminhada que a gente teve até aqui. É lógico que o BBB contribuiu e muito para que as pessoas tivessem acesso a toda essa bagagem que eu construí ao longo da minha carreira. Mas, eu tinha muito receio que as pessoas esquecessem de todo o meu trabalho que foi realizado anteriormente, por eu ter chegado ao programa na condição VIP. Esse fenômeno “Big Brother” foi uma grande projeção para mim aqui no Brasil. E uma das coisas mais impressionantes que eu achei foi o acesso que eu tive às crianças e isso foi muito legal. Então, além da surpresa atual que o Babu Santana virou, ainda tem mais surpresa por aí, porque eu cativei um público infantil que daqui a dez anos vai virar um público consumidor. Eu espero poder superar as expectativas e que estas crianças continuem me acompanhando. “Um beijo para os amiguinhos que torceram para o Babu! Valeu!”

BRAZILIAN WAVE – Você contou anteriormente que sofreu preconceito desde muito cedo. Estas vivências negativas foram importantes para te fortalecer e ensinar a se posicionar atualmente?
BABU SANTANA – Com certeza! E não só eu, mas todo homem e toda mulher, principalmente a mulher preta, todo homem preto, o cidadão de gueto e de periferia tem que usar todas essas mazelas como uma mola propulsora. A minha meta sempre foi provar que as pessoas estavam erradas, sempre foi ser parte de uma estatística positiva. Então, todas essas agruras ajudaram a me fortalecer, ao passo também que elas me prejudicaram para que eu crescesse mais. Foi preciso de um fenômeno publicitário da televisão para eu poder alcançar certas coisas que eu sempre almejei. Mas, também foi esse homem forjado no gueto que impressionou todo um país. Então, todas as dificuldades forjaram o Babu Santana, o Alexandre da Silva Santana. Portanto, elas foram fundamentais para que eu me tornasse quem eu sou. Eu acho que, de repente, as dificuldades me fizeram ser uma pessoa mais forte para eu poder chegar no mesmo lugar que outra pessoa, só que de um modo mais difícil. Então, quando você vai tomar o vinho da vitória parece que ele é mais doce.

BRAZILIAN WAVE – Valeu a pena participar do Big Brother Brasil 20? Se sim, em relação a quais aspectos: financeiro ou pelas novas oportunidades de trabalho que surgiram após o game?
BABU SANTANA – Olha, foi 100%! E se o Boninho quiser me chamar para o BBB 22, eu estou aí. Eu sou um cara que tem um gosto popular, eu já curtia o “Big Brother” e, fazer parte dele, foi uma onda pessoal muito grande – tomar banho naquela piscina, ficar 90 dias ali de boné, lutando por um milhão e meio de reais… Financeiramente, foi muito importante e para a minha projeção ainda mais, já que estamos em um mundo onde o engajamento e a Internet têm um peso muito grande. Durante a pandemia, todo o entretenimento migrou para Internet. Quem está aí nas boates curtindo alguma coisa, está louco, está fora deste mundo (risos)! Então, fazer o BBB me deu um impulsionamento artístico, não no resultado da arte, mas na divulgação. E também, porque mais pessoas souberam quem é o Babu Santana. Eu fiz o “Big Brother” e, se êles me convidarem de novo, eu o farei. “Estamos aí, Boninho! Se liga aí, meu parceiro!”

BRAZILIAN WAVE – O seu personagem Nanico, da novela “Salve-se Quem Puder”, teve ares de galã e foi um dos primeiros personagens sedutores que você fez. Isso foi importante para a sua autoestima? O que esse papel representará para você?
BABU SANTANA – Eu acho que não é o primeiro personagem sedutor que eu faço, mas a nível nacional com certeza. De repente, é o que mais irá marcar por eu ter me tornado uma pessoa mais conhecida. E, mais do que isso, mais do que um sedutor, porque o ser sedutor é o humor. É aquele triângulo amoroso mais improvável e engraçado. A importância de ter participado dessa novela foi que, pela primeira vez, eu vi um autor de novelas torcer por mim. (risos) Um beijo Dani! E, por isso, foi muito importante estar presente na obra desse cara nesse sentido. Depois, estar com aquelas duas atrizes maravilhosas e que eu sempre admirei, trabalhar com aquele elenco maravilhoso e ter esse contato popular, colocando o corpo preto num outro lugar, isso é revolucionário e muito importante.

BRAZILIAN WAVE – Se o Babu Santana de hoje se encontrasse com o Babu Santana que estava entrando no teatro “Nós do Morro”, em 1997, o que um diria ao outro?

BABU SANTANA – “E aí negão, vai fundo!”