Entrevista com Leonardo Rodrigues: Innisfil, Ontário

Transcrição do postcast da Wave "Ontário não é só Toronto". Neste episódio, conversamos com Leonardo Rodrigues, que mora em Innisfil com a família, há mais de cinco anos.

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Entrevista com Leonardo Rodrigues:
Innisfil, Ontário

Christian: Seja bem-vindo a mais um episódio do Ontário não é só Toronto. Eu sou o Christian Pedersen. Nesta edição, queremos saber: por que o Leonardo Rodrigues foi morar em Innisfil? Leonardo está no Canadá desde 2009. Já faz cinco anos que ele e sua família moram em Innisfil. Innisfil é uma cidade de 34 mil habitantes localizada ao norte de Toronto, mais ou menos a 80 km, bem pertinho de Barrie, que é a cidade maior da região.

Ontário não é só Toronto, o podcast da Brazilian Wave.
Escute o áudio/podcast desta entrevista com Leonardo Rodrigues

Christian: Alô Leonardo, seja bem-vindo ao Ontário não é só Toronto.

Leonardo: Como puder ajudar a comunidade e poder contar a minha história.

Christian: Você já morou no Canadá outra vez. Por que escolheu o Canadá na primeira vez?

Leonardo: Vamos começar bem lá do começo. Quando eu tinha 18 anos, fui estudar nos Estados Unidos. Passei quase seis anos lá, fiquei no estado do Alabama (sul do Alabama e norte da Flórida, nessa área) e fui para o Brasil. Só que, quando eu cheguei ao Brasil, após quase seis anos, não me adaptei mais. Então, eu disse: “ah, quero ir para a América do Norte, algum país”. Mas, eu não queria os Estados Unidos. Então, foi quando alguns amigos no Canadá disseram: ”vem para cá que é bem legal. Só tem um problema: o frio” Eu disse: “ah, tudo bem, a gente se adapta!”. Eu cheguei no mês de março, na primeira vez, bem no final do frio. Ainda tinha neve, mas o frio que eu peguei foi bem rápido, deu para adaptar legal. Daí, começou logo a primavera, o verão e depois, de novo, o frio. Mas, nunca foi um problema para mim, mesmo sendo de Recife, né?! Sempre me adaptei bem com o frio. Não tenho problema. Adoro o frio! Hoje em dia faço o ice fishhing que é pescar em cima do lago. Adoro! Inverno para mim não é um problema! Sempre morei em Toronto, uma cidade grande que tem mais facilidades, transporte público, banco, tudo que a gente precisava estava tudo ali no downtown, como a gente chama.

Christian: Aí você voltou para o Brasil?

Leonardo: Foi. Porque aí já há quase três anos [no Canadá], aquela decisão de que aqui era o meu lugar. E o Brasil já era coisa do passado mesmo. Não era nem plano B. O plano A era morar no Canadá, o plano B, morar no Canadá e o C, também. E foi logo quando eu cheguei ao Brasil, através de uma amiga que morou comigo aqui, que eu conheci a minha esposa. Quando eu cheguei lá, ela estava com o mesmo projeto, só que ela estava um pouco mais adiantada que eu, de vir para o Canadá. Então eu disse: “Ah! Bora lá!”. Gostei e a gente se casou por causa do Canadá e viemos juntos. Mas, ela botou a condição de querer morar no Quebec, em Montreal.

Christian: E por que Quebec?

Leonardo: Primeiro, que o processo que a gente fez foi o processo do Quebec. Então, a gente estudou francês e fez todo aquele processo. E ela queria! A gente já tinha alguns amigos em comum que estavam morando lá e que também fizeram o processo. Então, eu concordei com ela. Mas dentro de mim, já discordando. Mas, aí eu disse: “bora!”. Quando a gente chegou lá, ela mesma viu que a realidade era diferente. As dificuldades no Quebec, em Montreal que a gente passou, aquela primeira chegada lá, não foi tão legal. Como eu já tinha experiência dos Estados Unidos e aqui em de Toronto, onde tudo flui rápido rapidamente…em Quebec você tem que dar muito tempo para começar a fluir.

Christian: Por que você acha isso? Por causa da cultura pelo lado francês?

Leonardo: A cultura deles, exatamente. A cultura deles é bem fechada. Você fala o francês fluente com pouco ou quase nada de acento [sotaque] para poder se impor. Você tem que ter uma bagagem de experiência: aquele primeiro emprego canadense, eles exigem bastante. E a questão também da educação. Você quer trabalhar de…que seja, como empacotador no supermercado (…) tem que ter o curso técnico. Não é somente chegar aqui e começar a empacotar. Eles são bem exigentes com isso. Então, fora a barreira para quem está chegando, ficou difícil. Eu disse: “ah, eu conheço as portas lá em Toronto, eu já conheço os caminhos, então vai ser mais fácil do que ficar aqui”. E ela concordou comigo, tranquilo. Graças a Deus, a gente está muito bem obrigado agora, e não se arrepende da decisão.

Christian: Você já tinha experiência em Toronto, mas quando você veio para ficar foi diferente? Foi mais fácil?

Leonardo: Não. Aí era justamente aquilo que…quando eu coloquei na mesa para a gente se mudar para Toronto, foi justamente o que foi. Eu cheguei aqui, me lembro, eu peguei um ônibus, deixei ela lá em Montreal e disse: “vou para Toronto para ver como é que está o mercado de trabalho”. Vim no domingo. Na segunda feira, acho que antes de meio dia, eu já estava ligando para ela do meu novo telefone de Toronto e disse: “olha, já arrumei emprego, já temos lugar para morar. Só empacota as coisas aí, que eu volto para te buscar”. Tipo assim…não tem como comparar! Às vezes eu brinco com os meus amigos lá de Montreal que são dois países: “a gente está no Canadá e lá, é o pais de Quebec”. Eu digo ao pessoal: “se vocês tiverem problema na fronteira, me avisem que eu mando uma carta lá para o oficial de migração para (deixar vocês) entrarem”.

Christian: É que realmente, é uma cultura bem diferente.

Leonardo: Eles são mais europeus. Os franceses, eles são bem assim com isso. O inglês, ele é diferenciado do da Europa. E [em Ontário] a gente tem a cultura inglesa do trabalhar, do produzir, do cultivar. No Quebec é aquele slow motion. É igual…é meio brasileiro: sempre tem o amanhã: amanhã a gente faz. Eles curtem mais, tipo, eles dão muito valor ao pub. A gente aqui, é mais trabalho, trabalho e trabalho.

Christian: Para encontrar lugar para morar em Toronto, nesta segunda vez, foi tranquilo?

Leonardo: Sim. Não teve problema porque eu já tinha conhecimento. Já tinha tido a primeira experiência, já conhecia pessoas. Quando dava algum problema, eu já sabia onde correr para resolver. Então, foi só a questão de adaptação mesmo. Mais difícil foi a da minha esposa. Mas, a gente se adaptou fácil, porque tinha um grupo grande de amigos em comum. Quando se está com amigos, fica mais fácil a adaptação. Ela hoje reclama só um pouco mesmo, da língua. Porque ela estudou tanto o francês e hoje tem que usar o inglês. Graças a Deus, a gente foi por um lado…a gente sempre teve esse lado empreendedor e ela embarcou. Acho que por isso a gente se dá tão bem. Porque a ideia que eu boto, ela vem junto também, ela compra.

Christian: Falando nisso, empreendedorismo, fala um pouco da empresa que você abriu aqui no Canadá.

Leonardo: Minha formação nos Estados Unidos foi de gerenciamento de hotel e restaurante. Então, eu sempre trabalhei com o público, gerenciando pessoas. Tinha clientes e eu gerenciando os funcionários. Sempre tinha uma equipe para eu poder gerenciar. E eu trouxe isso na bagagem e saiu aparecendo. Trabalhei com outras coisas, lógico, no começo. Mas, sempre na cabeça de querer ter o meu próprio negócio. E apareceu uma oportunidade. Aquele negócio: no lugar certo, na hora certa. Uma pessoa ofereceu para ela de comprar um business, que era um business de uma empresa de limpeza. Ela chegou com a ideia em casa e eu disse: “tá louco! Não vou comprar. Não sei nem quem é a pessoa!”. E ela “não, vamos, vamos!”. Insistiu e eu disse: “tá”. Compramos e eu comecei a trabalhar na empresa, justamente no operacional, gerenciando as pessoas. Uma empresa de limpeza. A empresa era pequena na época. Com o tempo foi crescendo. Isso, há 10 anos atrás. A gente foi crescendo. Eu fazendo a parte operacional e o dono da empresa, canadense, fazendo a parte administrativa. A gente conseguiu chegar em um patamar muito bom. Quando foi há uns três a quatro anos atrás, mais ou menos, ele decidiu se aposentar e vendeu a empresa. Aí foi quando eu disse: “tá…vai vender…”. Aí ele: “Você quer comprar?”. E eu: “lógico que eu quero!”. Ele fez um bom preço e eu comprei, novamente, a empresa. Pela segunda vez eu comprei a empresa. Hoje eu continuo fazendo a parte operacional e a parte administrativa fica com a minha esposa. A gente vive da empresa, hoje.

Christian: Essa mudança foi fácil? Porque já estava uma empresa montada, não precisou sair do zero. Mas, como é essa adaptação de ter uma empresa aqui, de lidar com pessoas aqui? Como é vocês fazem?

Leonardo: Eu tenho facilidade de lidar com pessoas. Quando eu comecei na empresa, na primeira vez, eu já tinha os funcionários. A empresa da gente é de property maintenance. Tem os escritórios, na limpeza e hoje, o principal objetivo são os shoppings centers. A gente faz a parte de limpeza, de banheiros, troca lixo…a parte do estacionamento lá de fora, a gente toma conta. Toda essa parte. A gente tem hoje mais de dez contas. Graças a Deus, a empresa é sólida e a gente quer crescer mais. Mas, a gente já está em um bom patamar. Assim, a gente já está no limite da gente. Então, a gente conseguiu administrar a minha parte porque eu já trabalhava com gerenciamento de pessoas e eu conhecia os properties managers dos shoppings, então foi mais fácil. Alguns…acho que até hoje não sabem que eu comprei a empresa. Acham que eu sou só um operacional. E mantenho assim. O meu ego não é tão…eu sei quem eu sou e deixa eles pensarem o que quiserem.

Christian: Tem muitos brasileiros trabalhando com vocês?

Leonardo: A maioria é de brasileiros. É mais fácil a comunicação. Têm uns canadenses que (eu já tive mais canadenses trabalhando)…fica difícil pedir o que você quer. Eu tenho um estilo de trabalho diferente de várias outras pessoas. E por isso a gente está no mercado há certo tempo e sólido. Eu sou exigente, mas de uma maneira sutil. Poder passar isso para um brasileiro, o brasileiro absorve melhor. É diferente para um canadense. Eu chego para os meus funcionários, eu aperto a mão, eu abraço, eu levo eles para comerem comigo. Então, assim, eu retribuo o que eles me dão. E você fazer isso com o canadense é bem complicado. Até um apertar de mãos eles têm certa barreira. É mais fácil trabalhar com brasileiros.

Christian: você tem três filhos. Um é mais velho e voltou para o Brasil. Ele voltou por que não gostou ou não se adaptou…o que aconteceu?

Leonardo: ele nasceu nos Estados Unidos, nasceu na Flórida. Eu digo que ele “is the only american that I like”. Ele é americano. E aí, quando eu voltei para o Brasil, eu me divorciei da mãe dele. Ele ficou morando lá [Brasil] e depois ele veio para cá [Canadá], quando a gente já estava estabilizado. Conversei com a minha atual esposa e ela concordou e ele morou aqui quatro anos. Mas, ao contrário de mim, ele já não se adaptou tão bem ao frio. No verão, ele ia bem, bem mesmo! Mas quando chegava o inverno… coitado! Também, ele tinha que ir à high School, tinha que ficar no ponto de ônibus. A aula começava às sete e meia e ele tinha que estar às seis em meia da manhã esperando o ônibus. Foi bem complicada essa adaptação para ele, no inverno. No verão, ele fazia futebol, curtia praia, fazia churrasco. Mas, no inverno… até hoje ele diz: “o frio daí não dá para mim”.

Christian: E por que Innisfil? Como surgiu Innisfil para vocês?

Leonardo: Quando a gente começou a se estabilizar já com a empresa (a gente não tinha comprado ainda a empresa), a gente já tinha comprado casa lá em Toronto, já estávamos bem. Bruna, minha esposa, já trabalhava também, na parte administrativa da empresa. E a gente já estava naquele processo lento de transição. O dono da empresa, o Henry, ele já ia vender para gente. Já tínhamos conversado. Bruna já estava trabalhando dentro da empresa para se adaptar, para já saber das coisas, e eu no operacional. O trabalho da gente foi terceirizado para uma grande empresa, que é americana e canadense. Ela administra vários shoppings centers aqui no Canadá, desde Montreal até Vancouver, Calgary, tem vários malls. O gerente desta empresa, (ele gosta bastante da gente, do trabalho que a gente vem desenvolvendo aqui) ofereceu um shopping grande aqui na região, em Barrie. É um shopping bem grande; tem só lojas grandes. É um complexo de shopping centers, daquele boxes store, corredor aberto… E ele perguntou se eu queria tomar conta:”olha, vocês querem assumir isso daí, vocês querem tomar conta?”. E eu estava em Toronto. Aí eu disse: “Ah, você tá louco?! Lá em Barrie?”. Porque de Toronto para Barrie são 45 minutos se estiver tudo normal. Mas daí com neve, e o trânsito…só tem uma Highway que é a 400. Chegar até lá é complicado.

Christian: E no verão também é ruim. O pessoal sai para passear no interior e aí fica tudo parado.

Leonardo: É porque são os lagos, a parte de cottages que o pessoal chama, que é tudo para o norte. Quando dá quinta-feira de manhã, esquece! No mínimo, para andar um quilômetro são 10 a 20 minutos. Bem complicado! Aí ele falou: “eu confio em vocês, estou precisando”. Tinha outra empresa que fazia o que eu faço e que não estava fazendo um bom trabalho. Ele disse: “eu confio em vocês, estou precisando”. Eu disse: “tá, deixa eu ir lá e ver!”. Quando eu cheguei (me lembro) era um domingo à tarde. Parei na porta do shopping e olhei: “era grande!”. E eu disse: “nossa, não vou dar conta!”. Mas, minha esposa, mais uma vez: “não, bora! Vamos! A gente vai, a gente consegue!”. Eu disse: “tá, tá bom”. A gente pegou o trabalho e acho que por uns seis meses eu fiquei dirigindo de Toronto para cá. Principalmente no começo, que exige mais da parte operacional: montar equipe, contratar pessoas, fazer eles se enquadrarem na rotina, tudo isso. Então, exigia mais. Nos dois, três primeiros meses eu estava, praticamente, todos os dias aqui. inclusive, sábados e domingos. E eu estava dirigindo, enfrentando isso aí: enfrentando trânsito, enfrentando neve, enfrentando todos esses empecilhos de uma cidade para outra. E nesse meio termo, entre isso, eu comecei a dirigir pela cidade. O mall fica na cidade de Barrie. E eu disse a ela: “que tal a gente mudar para Barrie?”. E ela começou a procurar casa. O preço era, praticamente, a metade do preço de Toronto para Barrie. Você vê: a gente vendia a casa da gente e ainda sobrava metade para comprar outra aqui. E o tamanho? Um quintal que a gente não tinha! Em Toronto a gente morava em uma townhouse e achava-se rei! Aqui em Barrie, a gente mora em uma casa e o quintal é quase half acre, que é o normal das casas aqui. Aqui é uma área mais afastada, então os quintais são grandes, as casas são mais baratas. Então, eu comecei a dirigir em Barrie procurando casa. Até que um belo dia, eu me desviei do caminho e comecei a descer, beirando o lago. E quando eu cheguei (nunca me esqueço disso!), cheguei em uma rua e a rua e a rua era uma ladeira. Você descia e era feito um…porque a cidade fica no alto e tem o lago mais embaixo.

Christian: No caso é o lago Simcoe, que fica inteiramente na província de Ontário. Aliás, é o quarto maior lago situado inteiramente dentro da nossa província.

Leonardo: Quando eu cheguei à parte de cima… assim, quando eu olhei, eu vi o lago e o sol batendo no lago e os pinheiros próximos ao lago, eu parei o carro. Daí, me veio à cabeça quando eu chegava à praia de Itamaracá, lá em Pernambuco. A diferença eram os coqueiros. Quando a gente chegava (porque era um morro) você via os coqueiros e o mar ao fundo. Me veio aquela lembrança! Ali mesmo eu disse a ela: “para de procurar em Barrie. O lugar agora que eu quero morar é em Innisfil!”. E foi daí que a gente começou… eu a trouxe no mesmo lugar que eu parei, no outro dia, e disse: “vem ver se não é!” ela disse: “realmente é parecido. Não é igual!…É parecido”. Foi justamente aí que a gente começou. A cidade da gente é pequena, tem uma rua só. Tem um supermercado, tem o LCBO…[Liquor Control Board of Ontario que é uma corporação da Coroa, que vende e distribui bebidas alcoólicas através da província de Ontário].

Christian: Innisfil fica a mais ou menos uma hora e meia ao norte de Toronto, então, vocês costumam vir a Toronto muitas vezes ou ficam mais para Barrie?

Leonardo: De Innisfil para Barrie, são 10 a 15 minutos. Innisfil é uma cidade gêmea de Barrie. Você não faz nada em Innisfil: só dorme. Se quiser comprar uma coisinha pequena, aí você pode ir ao mercado, que tem coisas básicas. Mas, as lojas para fazer compras grandes, ficam em Barrie.

Christian: E como é a rotina das crianças? Escolas em Barrie?

Leonardo: Tem em Innisfil. Ali tem as escolas. A gente escolheu ficar na Catholic Board, nas escolas católicas: aí tinha uma escola aqui que as crianças foram. Como as crianças vieram pequenas… o Luan que é o meu primeiro, ele na época tinha de dois para três anos..nem na escola estava. Outra coisa (acho que eu pulei essa parte) que fez a gente vir para Innisfil, também: além da beleza do lago, das casas serem mais baratas, casas com quintais grandes, a gente estava tendo um problema seríssimo de achar um day care para o Luan, na época. Inclusive a gente teve uma experiência horrível com o day care em Toronto.

Christian: É? O que foi?

Leonardo: Estava muito misturado o day care. Bruna não quis deixar lá no day care, quis ficar com a criança e a diretora não deixava. Quase que chegava a polícia para tirar Bruna do day care. Não, foi sério! Rebocaram até o carro da minha esposa. Foi uma experiência horrível. Inclusive, eu estava em Barrie e desci nesse dia para ir socorrê-la. Ela ligou para mim e disse: ”vem porque o negócio aqui está feio”. E eu saí de Barrie até lá. E quando a gente tomou a decisão de procurar casa aqui em Innisfil e começou a procurar também day care, a gente começou do day care para, depois, ir para a casa. Aí a gente foi procurar um day care aqui, e a gente encontrou um Montessori. O day care que ela queria, que era o sonho dela: que fosse Montessori. E a gente foi tão bem recebido! Foi assim, a grande mudança que fez a gente decidir. Porque foi quando a gente viu a diferença que eu digo até hoje: “tem uma diferença das pessoas de Toronto e tem uma diferença das pessoas daqui de Barrie e Innisfil: a receptividade das pessoas”. Aquela vontade de saber quem é você, de onde você veio, por que você veio para cá. Praticamente, essas questões que você está me fazendo, as pessoas daqui têm a curiosidade de fazer. Ainda tem o tempo de conversar e lá em Toronto, a gente já não tem mais isso. É somente “trabalho, trabalho e trabalho”, “go, go, go”, o tempo todo. Quando a gente foi no day care (nunca me esqueço), a dona do day care veio conversar com a gente. A gente ficou mais de horas conversando com ela. Ela tomou um café, ela pegou o nosso filho, andou com ele e dali, ele já quis ficar, desde o primeiro dia. E eu falei: “pronto!”.

Christian: No day care de Toronto, creche para traduzir, qual foi o grande problema? Foi preconceito?

Leonardo: Uma mistura de tudo. Acho que preconceito, um pouco. Talvez nem tanto, porque Toronto já é uma cidade bem mista. Tipo…quando a gente vai falar o inglês, a gente fala o inglês com acento [sotaque], né? Então, as pessoas já não têm tanta paciência de tentar entender o que você está falando. Quando você chega com acento, eles já lhe tratam diferente do que se você falar o full canadense nativo. Então, tudo isso e a falta de tempo! O day care, lá, estava entupido. Era embaixo em um sótão [porão] de um prédio entupido de crianças. Porque a procura lá é grande. Então, tem que ter vaga, não pode dizer não. Tem que empurrar mais criança, tem que aceitar. Não tem um limite de crianças: eles não estão preocupados com isso. E tudo isso chocou a gente. Não era isso que eu queria para o meu filho, e nem a minha esposa. Foi um choque. Quando a gente pensava em botar ele no day care, a gente pensava em uma coisa boa, em uma coisa legal. Eu cresci em day care, no Brasil. Sempre fui de creche, porque meus pais sempre trabalharam. E eu tenho ótimas recordações! Mesmo de criança, eu tenho recordações das creches que eu fiquei. E era isso que eu queria para nossos filhos, né? E lá em Toronto não teve. A gente disse: “não, não dá!”. Quando a gente chegou aqui, foi totalmente diferente. Era uma creche pequena, com um número… acho que não tinha nem dez alunos na sala. Era uma professora super simpática com a criança, brincando…brincava do lado de fora, tinha os horários. A Bruna quis ficar nos primeiros dias com ele, para ele se adaptar e ela disse: “não, não tem problema, eu até recomendo que você fique”. Totalmente diferente o approach deles, daqui para Toronto. Então, assim, não tem nem mais o que pensar: “achamos o day care, achamos o lugar bonito, bem parecido (assim distante) com a praia lá do nordeste. Então, aqui é o lugar. Bora agora, procurar a casa”.

Christian: As crianças falam português, inglês? Como é que é?

Leonardo: Eu tenho um filho e uma filha. Minha filha quando veio para cá, ela veio bebê de colo. Acho que ela chegou à casa, não tinha nem um ano, ainda. Ele tinha três, quando entrou no day care e ela tinha um ano…nem um ano completo. A gente, dentro de casa, eu e minha esposa, a gente fala só, somente, o português. Lógico, algumas palavras-chave, assim: “está snow lá fora…nunca “neva”…está snow, está rain. São palavras chaves assim: car keys. A gente é quase 100% português dentro de casa. O meu filho fala mais português. Têm umas palavrinhas… concordância, masculino, feminino, plural ele ainda escapa. Mas, ele faz questão de aprender. Já minha filha não. Como ela fala muito, ela sai falando. O que ela sabe em português ela fala e o que ela não sabe, ela costura com o inglês e vai embora! Então, ela já mistura mais. Mas, a gente fala com eles: pergunta e resposta sempre em português.

Christian: E o filho mais velho, como é que você lida com a distância. Como é essa parte, porque tem dois aqui e um lá?

Leonardo: É bem complicado. É difícil como pai, né? Até a minha esposa (que não é a mãe dele, mas, o conheceu pequeno) também. Então, assim, tem aquele impacto da distância. Mas, é tranquilo. Eu fico feliz dele estar lá, porque está próximo aos meus pais. Então, compensam a minha ausência. Ele está lá, meus pais sempre têm acesso a ele, saem para a praia. Eles são sempre bem presentes. Meus pais mesmo se mudaram para ficar bem próximos dele.

Christian: Já vieram para cá passear? Eles vêm?

Leonardo: Sim. A cada dois anos eles vêm para cá. Eles gostam, ficam três meses. Na primeira vez eles ficaram seis meses. Mas, a minha mãe, ela diz: ”olha meu filho, acho lindo o lugar que você mora. Tudo lindo, maravilhoso, perfeito!…” Levei ela para Niagara Falls, levei ela para Montreal, a gente passeou bastante. Mas ela, até no verão, naqueles meses de julho e agosto, ela sente frio. Ela não consegue sentir o calor. Ela disse: “eu não senti o calor até hoje!”. Ela chegou, passou o verão, mas, não sentiu o calor. Para meu filho, tem a distância dele. Tenho essa dificuldade, lógico, mas a gente sempre conversa. Meu filho, graças a Deus, torce pelo mesmo time, que eu que é o Esporte. Então a gente sempre tem jogo do Esporte… a gente sempre conversa…está sempre trocando mensagem.

Christian: A tecnologia hoje em dia, facilita muito isso, né?

Leonardo: Sim. Graças à tecnologia até meus pais…minha mãe tem um i-phone, mandei para ela. Então ela sempre faz um face time comigo. Quando quer falar, ela não liga mais. Ela só faz face time, agora.

Christian: Quais os desafios que você vê como pai e empreendedor, no Canadá?

Leonardo: Primeiro, ainda são…na pandemia, foi quando eu notei mais isso, que a gente tem um desafio maior como brasileiro. Como eu falei, a questão da língua. A gente sempre tem que fazer duas vezes mais do que um canadense natural. Tudo o que a gente decidir fazer aqui, tem que ser duas vezes mais. Para você conseguir o respeito, dinheiro para abrir as portas do mercado e tudo, por ser brasileiro e imigrante, a gente tem que andar duas vezes mais. Então, o trabalho sempre me exigiu bastante tempo. Exige até hoje, bastante tempo. Então, eu sou mais ausente de casa do que a minha esposa, que passa mais tempo com as crianças. A educação deles cai totalmente sobre as costas dela. E eu fico ausente. Quando teve a pandemia, foi quando eu tirei mais um pouco mais o pé… e é uma decisão de vida de agora por diante: aproveitar mais o tempo com eles, com a família.

Christian: E como é a relação de vocês com Toronto hoje em dia? Vocês ainda vêm para cá ou já não querem mais saber?

Leonardo: Se você disser que eu tenho que ir lá emToronto agora… sabe aquela sensação ruim? De que você vai para um julgamento, a polícia está batendo na sua porta ou de que eu estou sendo punido por alguma coisa? Se você disser para mim, que eu tenho que ir lá em Toronto, eu não durmo, é sério! Mas eu tenho que ir. A maioria das minhas contas de trabalho é em Toronto, o meu escritório ainda fica em Toronto. A gente tem um escritório e eu alugo uma warehouse onde a gente guarda os materiais, tudo fica lá em Toronto. Mas, eu vou uma vez por semana só, no escritório. Entro e saio. E meus vizinhos lá de escritório: “ah! Há quanto tempo eu não lhe vejo”. Eu falo: “que bom, e tchau!” Eu tirei vantagem, de certa forma, da pandemia, para eu não ir tanto aos trabalhos de Toronto. Faço as coisas mais por telefone. Com a tecnologia a gente poder resolver as coisas mais por telefone. Tem a questão do Zoom…então, eu utilizo mais essas tecnologias e vou bem menos a Toronto. Acho que a cada duas semanas, uma vez.

Christian: E como é o transporte? Tem ônibus em Innisfil?

Leonardo: Outra historinha para contar. Eu digo à minha esposa: “onde eu quero morar é onde não tenha transporte público. Se a cidade tiver transporte público, para mim não presta”. E acho que há uns dois, três anos atrás, o prefeito daqui queria colocar transporte público em Innisfil. E foi quando começou lá aquele boom da Uber. E algum gênio (maravilhosa essa pessoa!) teve a ideia de, em vez de colocar um ônibus, que ia ocupar espaço nas ruas pequenas aqui da cidade, fazer um acordo com a Uber. E foi o que fizeram. Moradores de Innisfil pagam apenas três dólares para poderem andar de Uber, dentro de Innisfil. Se eu precisar chamar um Uber na minha casa, para ir ao mercado, alguma coisa, eu pago somente três dólares. Por 24 horas, têm dois carros da Uber, disponíveis, aqui na cidade. Por 24 horas, têm que ter dois carros. Se eu quiser ir à cidade de Barrie ou de Newmarket que são as maiores cidades vizinhas aqui, eu pago a tarifa normal. Mas, para eu andar na cidade de Innisfil são três dólares só.

Christian: Mas, se você quiser vir para Toronto? Tem ônibus, trem?

Leonardo: Tem o trem. Mas, o trem é outra experiência. Eu uma vez só, disse: “ah, vou andar de trem”. Eu nunca tinha andado: “vou lá experimentar!”. Mas, tenho que ir primeiro lá para Barrie. Daqui para a estação de trem, 15 minutos. Os horários: o último trem de manhã que vai para Toronto, ele sai acho que às sete e quinze, sete e meia, algo assim. Super cedo! Aí, é o último trem para ir para Toronto. Depois, o primeiro trem voltando de Toronto para Barrie, acho que só começa a partir das quatro da tarde… três e meia a quatro da tarde. Se você quiser, tem que pegar o ônibus de Toronto para Newmarket… uns vinte lugares. Você vai passar três horas para chegar ao seu destino final de ônibus.

Christian: Então, é melhor ter carro aí mesmo?

Leonardo: Não tem opção: “é carro”. Tanto é que a gente tem dois carros, hoje.

Christian: E as amizades? Vocês têm amigos por aí? Conhece outros brasileiros?

Leonardo: A gente gosta de churrasco, de música, de se juntar. Tem isso no sangue da gente. Então, para um canadense, para eles é meio estranho. A gente sempre procurou amizades com brasileiros. Mesmo em Toronto, o grupo da gente era de brasileiros. Aí, lógico, tem um canadense que é casado com um brasileiro…então, bota no wellcome para ele também enjoy o grupo, mas, a gente não se juntava. E aqui em Innisfil, tinha uma comunidadezinha já grande e em Barrie, que a gente começou a se relacionar. Aí lá vai, aqueles grupos de Facebook: “Brasileiros em Barrie”, a gente conheceu bastante gente. Depois, “Brasileiros em Innisffil”, começou a aparecer uma galera! Inclusive, quando a gente chegou à primeira casa (porque a gente já está na segunda casa aqui). Na primeira casa da gente em Innisfil, me lembro, eu estava fazendo um churrasco (a gente mudou-se para lá, acho que no mês de agosto, então a gente não conheceu muita gente), aí estava fazendo um churrasco (estava lá a carne), veio uma senhora (nunca me esqueço) e ela: “oh! O que é isso? Picanha?”, com aquele sotaque! Eu falei: “como assim, uma canadense conhecer picanha?”. Aí eu disse: “Yes, this is picanha”. E ela: “que bom!”. Eu disse: “Vem que tu fala português! Com sotaque, mas fala!”. O pai dela, canadense, morou no Brasil, foi professor de inglês lá no Brasil, em Florianópolis. E ela morou um tempo lá em Florianópolis. Mas, aí já depois que cresceu, veio morar cá. Mas, ela falava português, conhece pagode… ela adora pagode, samba, picanha e feijoada. Ela adora feijoada! Então assim, ela ficou bastante nossa amiga, nossa vizinha. Ela tem a companheira dela, também. A companheira dela é inglesa. Mas também, é um desmantelo! Porque são bem brasileiras, assim. Então, deu certinho com a gente. Era a nossa vizinha de trás de casa. E depois começou a chegar…chegou um outro brasileiro casado com brasileiro também, lá no condomínio, e a gente começou a ter esse pessoal. E com o passar do tempo, nos últimos anos, começaram a chegar bastante casais de brasileiros. E o perfil dos casais que chegam é parecido com o nosso: casal com filhos também da mesma idade, praticamente, dos nossos filhos. E casou certinho! A gente tem aqui um grupo legal de amigos. A gente tem um grupo…aquele núcleo mais fechado: aqueles amigos mesmo, de a gente passar as festas de Natal, Thanksgiving. O grupo mesmo, que é família: deixam de ser amigos para virar família. Então, a gente sempre se ajuda. Não tem tempo ruim: “preciso ficar com a criança… com o filho de um agora. Preciso buscar na escola, porque deu alguma bronca…”.

Christian: E são todos brasileiros?

Leonardo: São brasileiros. Eu tenho vizinhos que são canadenses e que a gente se relaciona bem. Eu estava aqui fora agora mesmo, e eu disse: “eu não posso sair, senão ele vem falar”. A gente estava lá conversando com ele, mas de entrar na casa deles… “vamos fazer hoje um jantar”… isso com canadense não temos. Eu diria que 90% do nosso círculo de amizades são com brasileiros.

Christian: você acha que isso é mais cultural ou você acha que com brasileiro tem mais afinidade?

Leonardo: Acho que é uma barreira da gente, que a gente colocou. A vida da gente é tão difícil: longe dos pais, de amigos do Brasil, de música, da cultura da gente lá do Brasil. Aí, a semana toda, a gente lidando no trabalho, praticamente falando inglês o dia todo. Então assim, no estresse. Quando chega o final de semana, aquela oportunidade que você tem para descansar e extravasar, lá vou eu, de novo, falar inglês? Eu faço a minha escolha de querer estar com brasileiros: a gente conversa sobre as mesmas coisas, as piadas são as mesmas; a gente bota uma música, o cara conhece também. Então, facilita. É para extravasar. Faz uma picanha, faz um churrasco, conversa…às vezes quando é da mesma cidade: “tu lembra aquele Carnaval, tu lembra aquela música, tu lembra aquele São João que aconteceu?”. Então, a afinidade fica maior. Flui mais a conversa, do que se fosse com uma família canadense, está entendendo?

Christian: E a segurança aí, como é que é? Como você se sente em relação a Toronto e até em relação ao Brasil? Como é que você vê?

Leonardo: Não conta para ninguém, tá? Fica só entre nós dois, mas o meu carro eu não tranco! Tanto eu, quanto minha esposa, a gente não tranca os carros. A porta da frente da casa, se a gente lembrar (por uma questão de costume só) a gente tranca, senão, dorme aberta. Quantas vezes as crianças vão à garagem, pegam alguma coisa, pegam a bicicleta, pegam o carrinho, o skate na garagem e não fecham a porta da garagem! E estão lá as minhas ferramentas, o freezer… a gente tem um segundo freezer na garagem, com carne (que a gente compra bastante), com muita picanha e fica lá (não vou lhe dar meu endereço, viu? rsrsr) Então, está lá, o freezer cheio de carne e Graças a Deus, nunca, nunca, nunca. Tem, é lógico…toda a cidade têm aquele grupo de adolescentes que saiu quebrando o carro para pegar besteira. Tem uns casos. Mas, se descobre rápido e se resolve. Mas, em termos de segurança…tem um colega nosso que é policial, aqui. Ele é brasileiro. Assim, ele é daquele país lá debaixo do sul do Brasil, da Argentina. Mas, ele é casado com uma brasileira: já é brasileiro. Ele trabalha na polícia aqui. Eles ficam dia todinho dentro da central e tem dois carros da polícia, só andando na cidade e parando gente que está correndo. Aí, às vezes, tem uma briga em casa…aquelas coisas: marido brigou com a mulher, bebeu um pouco mais, coisas assim. Mas, roubo, essas coisas, não. Nada, nada, nada!

Christian: Se surgir um novo shopping em outra região de Ontário e perguntarem : você quer lá tomar conta? Você iria ou sua ideia é ficar aí mesmo?

Leonardo: Não, acho que…posso ir porque quem, lógico, dirige é o carro. Que não seja em Toronto, mais para o norte eu topo ir, vou ver como é. Mas para mudar daqui, principalmente, da casa que a gente tem hoje…acho que a gente chegou no sonho, num certo sonho de casa. A casa perfeita é essa. Acho que daqui eu não saio mais não! Eu só estou um pouco preocupado porque a cidade de Innisfil é tão boa, que muitas pessoas estão vindo para cá e ela está crescendo bastante. É a única coisa que está me preocupando. A gente tinha uma rua e era: um carro ia e o outro voltava. Bem pequena, mesmo! Eu tenho uma pick-up e ela é grande. Então, eu tenho que manter o carro bem na linha mesmo: se eu for um pouquinho para cá ou um pouquinho para lá, eu já saio da linha e invado a faixa. Eles tão ampliando essa rua, então isso está me preocupando já!

Christian: E o inverno? Você falou que gosta, que você não liga. Mas, Barrie em comparação com Toronto, tem bem mais neve. Às vezes, tem tempestade e chega primeiro aí e não chega nada aqui. Como é que vocês estão lidando?

Leonardo: A gente já teve: domingo passado deu uma nevasca, já. A gente teve quase um pé de neve. Então, bota pneu de neve nos carros, compra um bom snowblower e bora! Fazer o quê? A graça é essa!

Christian: Vai ice fishing…

Leonardo: Vai ice fishing! Não tem o que fazer: eu gosto de bicicleta e bicicleta não pode andar no inverno. Então, vou fazer qual é o esporte? O que eu tenho para fazer? Vou fazer ice fishing, andar no lago… Qual é a graça? Bota uma roupa (eu tenho uma cabana) e é fazer o furo no gelo e ficar lá. Não gosto de pescar, tá? É só para só para ir. Só para ter o que fazer. Caminhar na neve… passo o dia limpando o drive way. O driveway está sempre bem limpinho.

Christian: o que você diria para o Leonardo que chegou ao Canadá da primeira e da segunda vez?

Leonardo: eu diria assim: você tem um sonho e aqui nada é impossível. Você era advogado lá no Brasil, você era médico, mas, você foi porque sua família quis que você fosse. Aqui você quer ser… trabalhar na construção, era o seu sonho…você tem um sonho aqui de trabalhar em restaurante, então vai lá! Quer ser músico… eu tenho amigos que tem esse sonho. É formado em direito no Brasil e aqui é músico! Ele vive muito bem. Inclusive, falei até com ele ontem e ele disse: “ah, não tenho muito dinheiro na conta”. Mas, ele foi atrás do sonho dele. E o Canadá é isso! No Canadá você vai atrás dos seus sonhos. O difícil é sair do Brasil! Quando você chega aqui, tudo é mais fácil. Você vai ter a barreira da língua, a barreira de se adaptar… a barreira de se adaptar ao clima, mas, você se adapta! Então, assim: “vá atrás do seu sonho. Procure andar com as pessoas certas, que vão lhe ajudar lhe colocando para cima. E vão estar sempre ali lhe dando bons conselhos. Você vai precisar bastante de pessoas para serem o seu alicerce, caso você caia”. Aconteceu com a gente: a gente caiu bastante para chegar aonde chegou hoje, a gente levou várias quedas. Mas, a gente sempre teve pessoas que nos ajudaram, porque a gente sempre fez o bem. Então, sempre teve esse alicerce para nos ajudar. Hoje a gente está colhendo o que plantou. E a gente ajuda hoje, a muitas pessoas. A gente sempre tem uns colchões, tem umas TVs que a gente guarda para as pessoas que estão chegando e que perguntam: “tem isso, tem aquilo? Tenho, toma aqui”. Porque a gente foi…os desbravadores, né? A gente abriu para as pessoas que, hoje, estão chegando E isso é legal! É bom ajudar! Hoje, aqui, a gente encontra coxinha, empada, pessoas que fazem o bolo prestígio para a gente. Então, coisas que a gente não tinha há 10 anos atrás. Hoje, já tem uma comunidade forte. Graças à tecnologia, que também ajuda bastante: dá um click ali, faz um search…vai tranquilo!

Christian: E você sabe que muitas coisas são relativas. Tudo depende da pessoa, da situação. Mas é legal para uma pessoa que queira vir para cá, ter uma história: “olha eu vi essa história”. Pode ser que inspire a pessoa a pensar diferente ou a ter noção de alguma coisa parecida.

Leonardo: Hoje em dia, a gente é um exemplo para muitos. Eu tenho uma equipe de 25 pessoas, hoje, na empresa da gente. Eu tenho bastante recém-chegados, que estão aqui há dois, três anos. Quando eles começam a contar as dificuldades que eles estão tendo, eu falo: “cara isso aí para mim, eu já passei por isso. Eu sei qual é. Então faz o seguinte: faz assim…”. Nessa semana, na terça-feira, teve um funcionário meu que estava querendo tirar a carteira de habilitação. Sair da G1. Aí eu disse a ele: “os passos são esses. Você não vai conseguir fácil sair da G1 para G direto. Você tem que fazer a G1, a G2 e depois…”. Porque os canadenses, não importa o tempo de direção, eles querem que você faça as etapas. Não adianta pular. E foi isso! Então assim, é bom a gente ser o espelho, ser o exemplo para essas pessoas. Poder contar as nossas histórias, nossas experiências de sucesso (e insucesso, também) para facilitar a vida deles, também. Sempre é bom.

Christian: Os nossos agradecimentos ao Leonardo e agora sabemos por que ele foi morar em Sudbury. E vale o esclarecimento de que são opiniões, experiências relatadas pelos nossos convidados. O que não significa que será a mesma coisa para outra pessoa. O importante desses episódios é que as pessoas conheçam um pouco de como é morar e viver nesses lugares. Para você que chegou até aqui, agradeço a audiência e até um próximo episódio.

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