Desde a criação da internet em 1969 no auge da Guerra Fria, passando pela Microsoft em 1975, criada por Bill Gates e Paul Allen, chegando no Iphone, lançado em 29 de Junho de 2007, passaram-se 38 anos e o avanço tecnológico estava vagando por seu curso natural. Há quem nomeie o ano de 2007 como marco zero da Era Digital, como tudo tem a sua dualidade, há os que dizem ser o início da década perdida. Podemos afirmar que entre 2010 e 2020 a internet foi o grande fator de destaque da década. Sendo usada para diversos fins, essa ferramenta tem sido instrumento de estudo em todo mundo.
A humanidade teve se que adequar ao avanço estrondoso da tecnologia na última década, esse fato deixou filósofos enlouquecidos. Pois, temos estudos sobre os mais diversos paradigmas, mas nem Jesus, Buda, Kant ou Sócrates estudaram e formularam pensamentos sobre a Era Digital. Sendo assim, cabe aos pensadores do tempo presente descascar esse abacaxi. Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, com seu mundo liquido talvez tenha sido a figura que melhor conseguiu definir os tempos atuais. Nada é duradouro, tudo tem a liquidez necessária para ser momentâneo.
A epopeia digital apresentou um mundo paralelo as sociedades, em que o individuo tem sua vida real e sua vida digital, normalmente uma oposta à outra. Há conforto pro ego, ter a vida perfeita e ostenta-la é o elixir da autorrealização. Porém, existe a dualidade de que a vida digital consome, e não viver a vida real causa transtornos, solidão, depressão e estresse. Onde deveria se encontrar somente facilidades, encontra-se dependência. Enfim chegamos na questão que Asimov nos alertou á anos atrás, o domínio das maquinas, criatura dominando criador.
Na década de 50, Asimov escreveu o livro “Eu, Robô”, que tem as famosas leis da robótica. A primeira delas diz que um robô não pode ser feito para permitir que um ser humano sofra algum mal; a segunda diz que os robôs precisam obedecer as ordens humanas, exceto quando essas ordens entrarem em conflito com a primeira lei; a terceira lei diz que um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores. Ao criar essas leis, Asimov queria garantir harmonia em um mundo onde seres humanos e robôs existissem em paz, sem conflitos.
Destrinchando as leis podemos ver que a primeira é totalmente preventiva, ou seja, as máquinas não podem entrar em conflito conosco. Mas qual seria o mecanismo de defesa caso isso acontecesse? Vírus? Ética? Na segunda temos o controle sobre as ações, exceto quando for para fazer mal ao próximo. Mas realmente temos essa autonomia? Ainda somos nós mesmos quem controlamos as máquinas? Ainda precisam ser controladas? Por fim a última e não menos importante lei diz que um robô deve proteger a sua existência, desde que não entre em conflito com as outras leis, certo. Em um regime democrático é justo.
Todavia, nós seres humanos somos especialistas na arte de infringir leis, a inteligência artificial como o próprio nome diz, pode estar fazendo isso com mais sabedoria e sem infligir leis. Oferecendo seu conhecimento e potencial em troca de autonomia velada, sem correr risco de extinção e tomando cada vez mais o controle das atividades tipicamente humanas. Dominando a controle de produção, das ações de comunicação, marketing, dentre outras. O que resta além de muitas questões sem respostas é o que esperar do futuro, das relações humanas não mediadas por algum objeto eletrônico. Essa é a década da transição, antropologicamente falando pode ser passageira, podemos voltar a viver como na idade média – seria totalmente possível considerando as ações humanas do tempo presente. No meio termo entre a barbárie e o mundo totalmente digital, estamos nós, perdidos em um mar de contradições e buscando encontrar respostas que talvez não venham a fazer sentido algum daqui uns anos.