Wave 108 – Por entre pinceladas, formas e cores. Um passeio pela rica história dos azulejos: Portugal e Brasil

Une promenade à travers la riche histoire du Azulejos (carrelage portugais en céramique peinte à l'étain): le Portugal et le Brésil

Traduit par Rosemary Baptista

Os azulejos são uma expressão artística e cultural significativa em Portugal, onde estão presentes há mais de cinco séculos. Essas peças cerâmicas são marcantes também no Brasil, especialmente no contexto da arquitetura modernista. Com tonalidades de azul cobalto ou cores vibrantes, linhas sinuosas ou geometrias marcantes, os azulejos conectam a história e a cultura destes dois países, mantendo viva essa rica tradição cultural.

Desde a época colonial, os azulejos têm sido utilizados, em Portugal e no Brasil, como solução de acabamento e decoração para uma variedade de ambientes e estilos. A beleza artística e a facilidade de manutenção fazem deles uma opção versátil de longa duração. Conectam diferentes localidades e culturas no passado, no presente e, como seguem demonstrando, também no futuro de muitas e muitas gerações.

Portugal

Fachada de residência em Portugal decorada com azulejos (Foto: dreasmtime.com)

Turistas visitam Portugal em busca dos belos e decorativos azulejos que emolduram pias batismais e fontes d´água, por exemplo. Também são atraídos pela beleza estética e boa conservação de fachadas e paredes azulejadas de igrejas e casas centenárias.

Os antigos azulejos artesanais portugueses com pinturas de efeitos suaves e fluidos fazem parte da identidade de Portugal e chamam a atenção pela sua qualidade técnica e artística. Ainda no século XV, os chamados mestres pintores usavam pinceis macios para aplicar na cerâmica vitrificada, linhas delicadas em tons de azul cobalto, desenhando uma variedade temas como cenas históricas, figuras religiosas, padrões geométricos e detalhes florais, entre outros.

O avassalador terremoto de 1755 arrasou Lisboa e exigiu a reconstrução da cidade. Os azulejos se apresentaram como uma ótima solução de revestimento e, com a produção aumentada, ficaram mais baratos. Viraram moda e passaram a fazer parte da decoração de muitos prédios da capital de Portugal.

A fábrica Sant’Anna, em Lisboa, é uma das poucas que ainda mantém viva essa importante tradição cultural e artística. Fundada ainda em 1741, é famosa pela produção de azulejos pintados à mão, seguindo as técnicas artesanais tradicionais.

Aos que se interessam pelo tema, o Museu Nacional do Azulejo em Lisboa conta a história do azulejo português, do século XV até os dias atuais. Esse bem montado e importante museu mostra a evolução dos azulejos e os seus vários estilos técnicos e artísticos, ao longo do tempo. Referência internacional no tema, é uma visita imperdível para quem, estando em Portugal, aprecia a arte e a história do país.

Brasil

Os azulejos portugueses vieram para o Brasil ainda no tempo colonial, assumindo formas de uso e pinturas artísticas da metrópole. Com o tempo, foram-se adaptando ao clima e à cultura local, ganhando algumas leves diferenciações.

Igreja de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte, com fachada de azulejos do artista Cândido Portinari. (Foto: Aguina / Dreamstime.com)

Nas décadas de 1940 e 1950 arquitetos e artistas Modernista brasileiros deram uma nova estética para aos azulejos, criando texturas e padrões únicos. Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Athos Bulcão por exemplo, são referência na arquitetura e padrão artístico dos grandes prédios públicos da capital brasileira, Brasília, construída no final de 1950. Mas Cândido Portinari, aqui, recebe destaque. Assina, entre outros, o grande painel de azulejos que compõe a fachada da Igreja de São Francisco de Assis. A igrejinha é parte do Conjunto Moderno da Pampulha, na cidade de Belo Horizonte. Reconhecido como Patrimônio Paisagem Cultural pela UNESCO. A pintura feita toda em tons de azul cobalto sobre fundo branco, homenageia a arte da azulejaria portuguesa na perspectiva do século XX.

Como artista inovador modernista, Portinari desenha linhas curvas que dão originalidade, leveza e movimento à pintura. O painel evoca pelos pinceis do artista engajado, a essência daquele que amava os animais. A cena de São Francisco conversando com urubus gerou indignação à época, ao que o pintor teria respondido, algo como:

“Não vejo nada de mal em que o mais humilde dos santos fale com a mais humilde das aves” – Cândido Portinari, em comentário sobre os urubus em seu painel de azulejos.

(Esquerda) Detalhe dos pássaros urubus, painel de Portinari. (Direita) Escadarias Selarón, no centro do Rio de Janeiro.

Vale ainda citar a Escadaria Selarón, um dos lugares mais visitados da cidade do Rio de Janeiro. A experiência torna-se ainda mais interessante, quando sabemos que muitos azulejos foram enviados por pessoas de diferentes lugares do mundo, ao longo de mais de 20 anos. Turistas passeiam por seus 215 degraus coloridos e decorados para vivenciar a alegria das cores e conhecer detalhes da obra do artista chileno Jorge Selarón, um admirador do espírito criativo brasileiro.

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