Uma das coisas que mais me encantou e chamou a atenção nos primeiros meses de quarentena, devido à pandemia do coronavírus, foi a quantidade de novos cantos de pássaros que passei a ouvir. Eram muitos, dos mais variados. Alguns, nunca tinha ouvido por aqui.
Novos ninhos surgiram nas árvores do quintal da minha casa e passei a acompanhar o movimento de ir e vir dos futuros e novos “papais” do pedaço.
No começo do mês, em um sábado chuvoso, me deparei com um filhote de sabiá que tinha acabado de cair do ninho. Ainda sem penas nas costas e longe dos irmãos, o pequeno ficou ali, vulnerável a qualquer predador. O que fazer? Eu, sozinha em casa…! Fiz o que estava ao meu alcance; coloquei em local mais seguro e seco. Mas ele era serelepe, não parava quieto no lugar. Saltitava por todo o quintal e eu tendo que localizar, procurar entre arbustos, folhagens, mas sempre o encontrava!
A chuva aumentou no decorrer do dia, o que fez meu coração apertar ainda mais. Amassei mamão, banana e ele sempre abria um bocão quando eu chegava perto com a seringa. Mas, o meu consolo foi ver que a mamãe sabiá não o abandonou. Aparecia sempre com algum “petisco” para ele. Meus momentos de alegria naquele dia se resumiram a essas cenas.
Conforme foi escurecendo, minha preocupação foi aumentando. Como ele iria dormir no chão, desprotegido? Fiz um ninho improvisado com uma cestinha, mas ele não curtiu muito e tinha o risco de cair novamente do alto… Coloquei o “ninho” de volta no chão, na parte coberta e mais elevada da entrada da casa e deu certo. Ele ficou ali, quietinho, por toda a noite.
No dia seguinte, minha saga em achá-lo começou cedo, mal dormi pensando nele a noite inteira. Ele virou craque em se camuflar entre as folhagens do quintal, mas sempre o encontrava, às vezes, com a ajuda da mamãe sabiá, que seguia firme e forte na sua missão de cuidar de sua cria.
O apelidei de Bola de Pena e rapidamente me apeguei àquele serzinho tão pequeno e indefeso. Finalmente, ele sossegou na parte dos fundos do quintal, mais tranquilo e protegido. Minha missão, então, passou a ser de fornecedora de alimentos. Deixava frutas à disposição da mamãe sabiá que o alimentava frequentemente.
Os dias foram passando e eu tendo o privilégio de acompanhar todo o desenvolvimento dele. Os primeiros e frustrados voos, o crescimento das penas nas costas até então peladinhas. Virei uma guardiã, pronta para espantar todo e qualquer perigo que pudesse o assustar ou ameaçar.
E o Bola de Pena foi crescendo rapidamente. Quinze dias se passaram e ele, enfim, criou asas, literalmente. Aparecia de vez em quando, o reconhecia pelo barulho característico que fazia e pela cauda e bico ainda em desenvolvimento. Parecia que estava me agradecendo e se despedindo. Tem mais de uma semana que não o vejo. E foi… Foi desbravar esse mundo lindo! Que seja livre e feliz!
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Que delícia de texto ! Tão simples , uma história singela para os dias de hoje ,mas tão bonita!
Parabéns, adorei !!
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