
A maioria de nós já passou pela experiência de comentar algo na Internet e em seguida sermos bombardeados por propagandas relacionadas. Se busco um parque na região para pedalar, em muito breve uma página de notícias mostra propagandas de bicicletas, capacetes, e itens relacionados. Mas, além da propaganda direcionada, o que mais a Internet consegue manipular? Vamos ver o que fazemos na Internet, o que ela aprende e como usa esse conhecimento.
O que fazemos online
Em um dia normal, acordo com o despertador do celular e aproveito para ver se há alguma mensagem mais urgente nos aplicativos. Ainda deitado, espreguiço e passo rapidamente pela tela de notícias. Respondo um convite para reunião importante que esperava desde ontem. Me preparo para o dia, faço café enquanto escuto uma rádio online. À mesa, as crianças avisam de um comunicado da escola, abro o email, falamos do assunto. Rumo ao trabalho, o aplicativo de trânsito muda meu itinerário, trânsito intenso à frente. Trabalho em ritmo forte, paro umas duas ou três vezes durante alguns minutos para ver notícias, esportes e pesquiso um passeio para o final de semana. A rede social sugere um aplicativo aleatório que prende minha atenção por alguns segundos, acabo instalando para ver depois. Nada que impacte meu trabalho, refresca a mente. Na volta do trabalho passo em uma loja, gostei do produto mas comparo preços na Internet, resolvo comprar online. Em casa, jantamos e assitimos a videos online. Antes de dormir relaxo vendo fotos aleatórias nas redes sociais, mando algumas mensagens para amigos e finda o dia.
O que a Internet aprendeu e fez sobre meu dia?
Antes de acordar: o celular detectou sono agitado, como nos últimos 3 meses, mesmo período em que passei mais tempo curtindo fotos mais escuras e azuis, e passei a me comunicar com menos amigos. Sinais detectados de ansiedade e uma leve tristeza.
Acordado na cama: interesse crescente por uma pessoa, visualização diária de seu status nas redes sociais, mas o interesse não é correspondido. Os olhos param por instantes sobre uma oferta de sofisticados utensilhos de cozinha, há interesse, mas fico intrigado pois nunca pesquisei nada parecido, mas a propaganda foi baseada no interesse de outros 3 amigos próximos.
Durante o café: a família tem 2 filhos, estudantes de escola particular classe média alta. Viagem internacional detectada. Música erudita na rádio confirma o nível social e econômico, comparando com perfis de outros ouvintes.
Indo ao trabalho: morador de bairro nobre, faz caminho até prédio comercial de alto padrão. Sem alarde, o aplicativo de trânsito desvia o caminho para mostrar novo empreendimento na região. O aplicativo vende a visita para a construtora e informa o possível interesse. Mais tarde o empreendimento é mostrado na timeline da rede social do cônjuge e para amigos próximos. Sem perceberem, vai ser assunto no clube de tênis.
Durante o trabalho: os sites visitados continuam aprendendo com o padrão de uso. Nos últimos meses é detectado menor volume de comunicação com o cônjuge, buscas sobre divórcio com filhos e crescente interesse pela página de outra pessoa. Risco alto de separação? Sabendo o final estatístico desta tendência, a rede social aproveita e oferta um aplicativo de relacionamentos. Oferta aceita.
No fim do dia: detectada visita a uma loja de equipamentos esportivos. A loja online quer competir e aproveita uma leitura rápida de notícias para fazer sua oferta de raquetes de tênis, mesmo modelo que um amigo sugeriu há alguns dias por mensagem de texto. Compra online efetuada! O aplicativo de videos online filtra e apresenta comédias românticas e filmes leves, numa clara tentativa de melhorar a qualidade do sono. A rede social também evita mostrar as fotos mais escuras e sombrias, apresentando imagens coloridas e mais relaxantes. É o final de um experimento que participo sem saber, por vários meses fui bombardeado por notícias, fotos e videos mais tristes e sombrios que o habitual. Posts de amigos foram escondidos para que a comunicação com eles diminuísse. Na segunda fase do experimento, meus sentimentos serão manipulados e medidos no sentido oposto, com mais publicações positivas. O objetivo do experimento? Saber se sou um produto melhor quando triste ou feliz.