
Em um momento histórico para o país, a visita do Papa Francisco fortalece o caminho da reconciliação junto aos povos indígenas do Canadá, depois do que sofreram em internatos religiosos neste território durante os séculos XIX e XX.
A visita, apelidada como uma “peregrinação penitencial” pelos abusos infligidos, deu oportunidade ao Papa de pedir perdão pelo mal cometido por tantos cristãos contra os povos indíginas.
O pedido de perdão do Papa aos ameríndios canadenses: vergonha para a colonização
A história dos povos aborígenes neste país é marcada por feridas profundas. No encontro realizado no Vaticano em dia 1º de abril com as delegações dos povos indígenas do Canadá, o Papa afirmou:
“Sinto vergonha, dor e vergonha pelo papel que vários católicos, particularmente com responsabilidades educativas, desempenharam em tudo o que vos feriu, nos abusos e na falta de respeito pela vossa identidade, pela vossa cultura e até pelos vossos valores espirituais. Tudo isto é contrário ao Evangelho de Jesus. Pela conduta deplorável daqueles membros da Igreja católica, peço perdão a Deus e gostaria de vos dizer do íntimo do coração: sinto muito!”
O Papa: o que foi praticado contra os indígenas foi um genocídio
Respondendo à pergunta de uma jornalista canadense, o Papa Francisco, no voo de retorno que de Iqaluit o trouxe de volta para Roma, falou sobre os temas da viagem que havia acabado de terminar e do colonialismo, antigo e novo.
Brittany Hobson, The CanadianPress – O senhor fala frequentemente da necessidade de falar com clareza, honestidade e com parresia. O senhor sabe que a Comissão Canadense para a Verdade e a Reconciliação descreveu o sistema das escolas residencias como um “genocídio cultural”. Aqueles que ouviram seu pedido de perdão nos últimos dias expressaram seu desapontamento pelo fato de a palavra genocídio não ter sido usada. O senhor usaria estas palavras para dizer que membros da Igreja participaram de um genocídio?
PAPA FRANCISCO – É verdade, não usei a palavra porque não me veio em mente, mas descrevi o genocídio e pedi perdão, perdão, por este “trabalho” que é genocida. Por exemplo, condenei isto também: tirar as crianças, mudar a cultura, mudar as mentes, mudar as tradições, mudar uma raça – digamos – uma cultura inteira. Sim, é uma palavra técnica genocídio, eu não a usei porque não me veio em mente, mas eu descrevi… é verdade, sim, é um genocídio. Não se preocupe, você pode relatar que eu disse que foi genocídio.
Depois de afirmar que com a viagem ao Canadá inicia uma nova página do caminho que a Igreja percorre com os povos indígenas, o Papa recordou que o lema da viagem “Caminhar juntos” mostra este objetivo. “Que a fortaleza e a ação pacífica dos povos indígenas do Canadá sejam um exemplo a fim de que todos os povos nativos não se fechem, mas ofereçam a sua indispensável contribuição para uma humanidade mais fraterna, que saiba amar a criação e o Criador”.