Por Alethéa Mantovani
Quem poderia imaginar que o videogame além de entreter e divertir pessoas de todas as idades, também se tornaria uma opção de terapia principalmente aos idosos? Pois é exatamente isso que vem acontecendo, uma vez que o jogo está sendo utilizado como auxiliar na recuperação do equilíbrio para a população com mais de 65 anos e, consequentemente, possibilitando que as pessoas desta faixa etária tenham menos quedas.
O envelhecimento, de um modo geral, traz diversas limitações às pessoas como a falta de mobilidade, dificuldade para realizar tarefas diárias como o simples ato de caminhar, se movimentar, subir degraus ou mesmo se abaixar. Além disso, as pessoas mais idosas têm mais chances de sofrer acidentes domésticos, principalmente pela falta de equilíbrio, muitas vezes ocasionada por doenças degenerativas como a artrose, a fraqueza muscular, os problemas de visão e outras.
Para reverter esse quadro, os médicos e fisioterapeutas recomendam a prática de exercícios físicos não só aos idosos, mas para as pessoas de todas as idades. Porém, para os mais velhos, ele será fundamental para que haja um aprimoramento do equilíbrio e também para o fortalecimento dos músculos.
Um tratamento que utiliza videogame está sendo utilizados nos dias de hoje como opção de terapia para as pessoas mais idosas ou que tenham problema nas articulações. É a proposta de reabilitação virtual, que utiliza jogos com sensores de movimentos, estímulos visuais, sensoriais e musicais para a realização de exercícios.
Por meio dessa terapia é possível recuperar o equilíbrio perdido devido à idade ou mesmo outras doenças, prevenir as quedas e ainda, auxiliar na recuperação pós-cirúrgica ortopédica, como as artroplastias de quadril e joelho.
O programa tem como diferencial a utilização de um software que disponibiliza indicadores precisos durante a avaliação do equilíbrio e do risco de queda, e que deverão ser trabalhados pelo fisioterapeuta e pelo profissional de educação física.
De acordo com a Dra. Rubia Benatti, os videogames favorecem a realização dos movimentos, simulando um ambiente motivador e mais próximo da realidade, além de possibilitar diferentes estímulos, visual, auditivo e sensorial, ao mesmo tempo. “Essa terapia ajuda no processo de reabilitação da marcha, equilíbrio e coordenação, e é indicada para as pessoas que sofrem com desequilíbrio corporal, especialmente quem possui limitações físicas como os idosos e pacientes pós lesões ou cirurgias”, explica Rubia. A fisioterapeuta ainda completa que, “A ideia é que os pacientes recebam, de acordo com o grau de desequilíbrio apresentado, exercícios individualizados por meio de videogames, com jogos que estimulam as habilidades motoras e aprimorem o controle do tronco e o equilíbrio corporal em diferentes posições, melhorando a força e resistência muscular do tronco, membros superiores e inferiores. Sem contar que a experiência no programa é incrível!”.
Segundo o médico ortopedista do Eco Medical Center, Daniel Carvalho, que é especialista em cirurgia do joelho e medicina do esporte, a proposta de utilização de elementos virtuais favorece a aderência do paciente ao tratamento, além disso, possibilita um controle maior da evolução, da melhora e da segurança dos pacientes, já que a maioria dos idosos possui alguma debilidade na marcha ou no controle muscular, avalia Daniel.
Para o ortopedista e cirurgião do joelho e do quadril, Thiago Fuchs, que atua no Instituto Fuchs, a terapia também pode contribuir para a recuperação de pacientes com diferentes níveis de artrose e após a realização de cirurgias como as artroplastias de quadril e joelho. “Estimular o ganho de mobilidade, o trabalho de força muscular e o equilíbrio pode ajudar no controle das dores da artrose, melhorar a qualidade de vida e também ser um passo muito importante na prevenção de quedas, uma vez que é alto o risco de fratura em idosos que sofrem quedas, principalmente, as domiciliares” – afirma Fuch.
Entrevista com o Dr. Thiago Fuchs
WAVE – Em que consiste a Terapia de Reabilitação Virtual do Equilibrio?
DR. THIAGO FUCHS – A Terapia de Reabilitação Virtual do Equilíbrio utiliza videogames com sensores de movimentos, estímulos visuais e música na realização de exercícios e atividade física. Esses fatores favorecem a realização dos movimentos, simulando um ambiente mais próximo da realidade.
WAVE – Como e quando surgiu e a ideia de se utilizar o videogame para auxiliar nos tratamentos dos idosos?
DR. THIAGO FUCHS – Os sistemas de realidade virtual se originaram a partir dos jogos eletrônicos e de entretenimento desde a década de 1950. A utilização dos videogames na reabilitação motora já foi relatada na transição do século XX para o século XXI. Porém, a partir de 1995, aparecem os primeiros estudos da sua utilização na reabilitação do equilíbrio. Quanto à sua utilização com idosos, sabe-se que o envelhecimento leva a importantes perdas funcionais. Após os 65 anos, até 30% dos idosos manifestam alterações do equilíbrio e postura, com a piora progressiva ao longo dos anos. A perda do equilíbrio é considerada por muitos autores o fator responsável por 85% das lesões nos casos de quedas, fraturas e alterações da marcha. Portanto, a partir de 2010 a eficácia da terapia com realidade virtual na melhora do equilíbrio dos idosos foi amplamente estudada por diversos autores na prevenção das lesões, melhora das atividades e qualidade de vida diária.
WAVE – De que maneira esse tipo de terapia funciona?
DR. THIAGO FUCHS – O trabalho pode ser interprofissional (médicos, fisioterapeutas e educadores físicos). A avaliação do fisioterapeuta indicará o grau de desequilíbrio. O exame físico, os recursos tecnológicos de avaliação e os questionários específicos são as ferramentas utilizadas. Respeitando os diferentes graus de desequilíbrio, serão prescritos exercícios individualizados por meio de videogames, com jogos que estimulam as habilidades motoras, aprimoram o controle do tronco e equilíbrio corporal em diferentes posições, melhorando assim a força e a resistência muscular do tronco, membros superiores e inferiores.
WAVE – Quais são as doenças que podem ser beneficiadas com o auxílio do videogame?
DR. THIAGO FUCHS – A metodologia é utilizada para a reabilitação da marcha, equilíbrio e coordenação, indicada para indivíduos que sofrem com desequilíbrio corporal, especialmente àqueles com limitações físicas como os idosos e pacientes pós-lesões ou cirurgias. Doenças como artrose, Parkinson, distúrbios vestibulares, pré e pós-operatórios, ortopédicos e outras, podem ser beneficiadas com o tratamento com videogames.
WAVE – Qual a diferença dessa terapia em relação aos tratamentos convencionais?
DR. THIAGO FUCHS – O videogame é um agente motivador nas terapias, pois aumenta a adesão e imersão no tratamento em diferentes faixas etárias, possibilita a exposição num ambiente próximo à realidade e com segurança; melhora a coordenação motora e possibilita os estímulos com múltiplas tarefas (estímulos visuais, auditivos e sensoriais), além de melhorar a velocidade de reação e destreza.
BRAZILIAN WAVE – Além do tratamento com o auxílio de um profissional, existe alguma recomendação para que o paciente faça algo complementar em casa?
DR. THIAGO FUCHS – Assim como em outras técnicas de tratamento, o fisioterapeuta fará recomendações específicas para cada indivíduo, preferencialmente inserindo a família no programa. A terapia com videogames pode também ser indicada como recurso complementar para outras técnicas de tratamento.
WAVE – Esse tratamento também pode beneficiar pessoas mais jovens e com outras comorbidades?
DR. THIAGO FUCHS – Seguramente, a reabilitação virtual também auxilia, além dos idosos, pacientes em diferentes faixas etárias, como por exemplo as crianças que apresentam lesões ortopédicas e os jovens e adultos na prevenção de lesões ocasionadas pela prática de atividade física e esportiva (lesões ligamentares e dos meniscos dos joelhos).
WAVE – Fale sobre outras considerações que pense ser importante sobre a terapia.
DR. THIAGO FUCHS – Apesar do fácil acesso na aquisição e utilização dos videogames para a sua utilização na modalidade terapêutica, é imprescindível a avaliação, o treinamento e a orientação dos profissionais especializados, para que sejam evitaWdos os acidentes e a piora dos sintomas.
Também participaram das informações desta matéria as fisioterapeutas da Clínica AGMA responsáveis pelo Programa de Reabilitação Virtual: Dra. Rúbia Benatti, Dra. Isabelle Collini e Dra. Patrícia Gois.
