Meu gato me ama? Essa é uma dúvida presente em muitos corações de tutores iniciantes. Porque, se para nós humanos um meigo sorriso no rosto é sinal de amor, com os gatos não é bem assim. Para eles, mostrar os dentes é sinal de agressividade. Mas, trazer presentinhos como uma barata morta, indica amor e cuidado.
Então, para saber um pouco sobre como os gatos demonstram afeto por seus tutores, conversei com Vitor de Souza, um jovem descontraído que está para se formar em engenharia. Ele é o tutor de Boris, um lindo gato preto que foi adotado na pandemia.
Boris se mostrou um gato carinhoso, mas também ciumento. Assim, tão logo a nossa conversa virtual começou, miou alto, se esfregou nas pernas de Vitor e pulou em seu colo. E eu imediatamente fiz uma brincadeira para quebrar o gelo: “Vitor, não há dúvida, esse gato te ama!” Não foi surpresa ver que o Boris ficou no colo dele até o final do bate papo. Rsrsrs.
Te convido, então, a conhecer um pouco da relação afetiva entre Vitor, um tutor novato e Boris, um gato comunicativo e amoroso. Boa leitura!
Ana C – Olá Vitor. O Boris foi adotado ou você o comprou? Conte um pouco sobre isso.
Vitor – O Boris foi adotado. Há muitos gatinhos abandonados que precisam de alguém para cuidar deles. Então, eu encontrei o Boris em uma casa de adoção, já faz três anos. O Boris é um belo gato preto sem raça definida, um vira-lata, como dizemos no Brasil. Eu o adotei quando ele era ainda filhote. Ter ele aqui em casa foi muito bom para ele, mas também para mim. Foi um ganha-ganha. Eu amo o meu gato e ele me ama.
Mas, assim como outros gatos pretos, muita gente não pega para criar, por conta das superstições. Ainda tem muita gente que pensa que os gatos pretos dão azar, que roubam energia e tantas outras crendices mais. Mas isso só me fez gostar ainda mais dele.
Quando eu me mudei para Joinville, uma cidade no sul do Brasil, tudo era novo e eu ainda não conhecia ninguém lá. Então, como eu gosto muito de bichos, achei que um animalzinho de estimação seria uma boa, para me fazer companhia e para suporte emocional. Então, escolhi um gato. Porque eles são mais independentes e menos exigente de atenção que cachorros. Embora eu sempre tenha gostado de gatos, sou da turma dos “gateiros iniciantes”.
Ana C – Como cresceu essa amizade entre vocês?
Vitor – Quando eu estive na casa de acolhimento de animais abandonados, o Boris logo me chamou atenção. No meio de tantos gatinhos ariscos, ele se mostrou receptivo. Quando estendi minha mão, buscando fazer amizade, ele se interessou. Custou um pouco a se aproximar, mas de tempos em tempos me jogava um olhar tímido. Depois, ele acabou se chegando. Com esses gestos, senti que o Boris era um gato corajoso e afetuoso. Foi então que decidi adotá-lo.
Ana C – Como você lida com a independência do Boris?
Vitor – Isso da “independência dos gatos”…na verdade, o Boris lida com isso melhor que eu, rsrsrs. Quando não está a fim de papo ou quer dormir, ele busca o canto dele e fica por lá. Fica na paz e me ignora.
Às vezes, o “canto dele” é uma das prateleiras altas da cozinha e, de lá, acompanha tudo o que acontece. Mas, quando está um dia frio e chuvoso, ele vai para a colcha macia e bem quentinha dele. Quando ele está de boa, felizão e sociável, se acomoda no meu colo, enquanto eu trabalho no computador. Daí, ele fica lá, cochilando e, às vezes, ronronando.
Dizem que gatos gostam de dormir na barriga do tutor. Mas o Boris não tem essa chance. Porque, quando ele vinha à noite, ao invés de relaxar, ele ficava meio que me arranhando no pescoço, no braço…acho até, que estava me chamando para brincar. É bacana, porque é uma das formas, como gato, de ele dizer que me ama, né? Mas veja bem, à noite, eu quero e preciso dormir. “
O Boris é um gato corajoso. Já foi muito mais destemido, independente e rebelde, até. Ele saía à noite para dar umas voltas. Mas o fato de ele ser um gato preto o deixa sempre mais vulnerável. Daí, em uma destas saídas, alguém bateu nele. Depois disso, ele ficou mais quieto e caseiro.
Ana C – Puxa, esse foi um momento bem difícil para ele e para você. Um tempo de poucos sorrisos…
Vitor – Sim. De poucos sorrisos e de muitos cuidados veterinários. Foi assim…um dia, o Boris saiu e não voltou para casa, como era de costume. Cadê o Boris, cadê o Boris? Fiquei arrasado, imaginando o pior. Depois de 9 dias sem dar sinal, ele reapareceu. Estava magro, triste e não conseguia comer.
A veterinária me disse que alguém deve ter dado um chute bem forte, porque ele estava com a mandíbula quebrada em dois lugares. Uma coisa horrível. Mas, como ele era novinho, se recuperou bem. Não teve sequelas físicas. Quanto ao emocional, ele foi muito bem cuidado e acarinhado por mim, pela minha namorada e pelos meus amigos.
Sinto que ele voltou a ser um gato contente. E também, mais mimado! Mas sabemos que ele merece.
Então, vejo que ele tem a nossa casa como o lugar onde ele se sente em segurança. Aqui ele tem carinho, comida e comodidade. Muito raro, agora, ele querer dar umas voltas. Mas sempre que ele sai, ele volta com um presente para mim, com algum bichinho estranho que ele caçou. Mais uma forma de ele demonstrar afeto de gato, de dizer que me ama.
Ana C – Presentinhos de gatos, bichinhos estranhos na boca…como é isso?
Vitor – O Boris sempre me cuida trazendo presentes. Mas, daqueles presentinhos de gato, né? Ele não é muito de brinquedinhos, não. Sempre que tem a oportunidade, ele sai caçando pela casa, ou mesmo fora. Pode ser um ratinho, uma barata, uma lagartixa…argh!
Eu entendo. É a forma de ele ser gato. De ele me demonstrar que me ama, aquele amor de gato. Mas, por outro lado, eu penso: “pega leve, Bóris. Isso daí é sujo à beça”.
Eu até procurei na internet maneiras de ensinar um gato a parar de caçar, mas não deu certo. Já desisti e aceitei esse lado naturalmente selvagem dele.
Dizem que os gatos tratam os seus humanos preferidos como a mãe gata os tratou. Então, a relação dos tutores com os seus gatos de estimação é assim: eles cuidam da gente e a gente cuida deles. Mas cada um a seu modo e no seu limite. Porque se eles não podem comer os nossos biscoitinhos, a gente também não come baratas! Rsrsrs.
Ana C – Como você sabe que o Boris está contente?
Vitor – O sorriso é uma das formas de nós seres humanos, mostrarmos que estamos felizes. Um cachorro, por exemplo, abana o rabo. Um gato ronrona em um colo quente e macio. Cada espécie tem o seu natural para isso.
Li que quando os gatos fecham os olhinhos, deixando apenas uma nesga, eles estão contentes, eles sorrindo por dentro. Achei muito legal isso.
Mas, percebo que há outras reações. Não sou especialista, como eu falei. Mas sou observador. Por exemplo, quando o Boris me lança um olhar direto, porém calmo e gentil, percebo que é um momento de intimidade e confiança. Quando ele corre prá lá e prá cá e me chama para brincar, certamente ele está contente. Na verdade, são momentos em que ele está demonstrando o seu afeto por mim.
Ana C – Alguma curiosidade final sobre os gatos para compartilhar com os nossos leitores?
Li duas coisas que me chamaram atenção. A primeira, foi saber que os gatos adultos não miam entre si. Vou ter que falar isso para o Boris. Outro dia ele ficou miando aqui no quarto, a noite inteira. Chatão. Fiquei muito bravo com ele. Porque eu estava morrendo de sono e tinha prova. rsrsrs.
A outra, foi saber que, com tantos milhões de gatos no mundo, não há muitas pesquisas sobre eles. Predominam os estudos com cachorros. Isso foi surpreendente para mim. Eu sempre me interessei pela relação dos gatos com seus tutores e vice-versa.
Mas ainda achei muita coisa, não. Fica a dica para mais estudos sobre isso
Espero que no futuro apareçam verbas e mais cientistas interessados em estudar de perto os comportamentos e temperamentos dos gatos. Eu iria amar pode entender melhor o Boris e me comunicar mais de perto com ele.