Wave 106 – Entrevista com Rodrigo Massa: um brasileiro brilhando no horário nobre canadense

Por Christian Pedersen
Com a participação de Eric Major

Moro no Canadá desde 2002 e, desde então, nunca havia visto um personagem brasileiro em uma série de TV por aqui. Isso mudou recentemente, quando a série The Spencer Sisters estreou na CTV, a maior rede privada de televisão do Canadá, no final de janeiro.

The Spencer Sisters é estrelado por Lea Thompson e Stacey Farber como Victoria e Darby Spencer, uma dupla de mãe e filha que investiga crimes em sua cidade natal, Alder Bluffs (filmado em Winnipeg, Manitoba, mas fingindo estar em algum lugar perto de Toronto).

A princípio, não pensei em haver um personagem brasileiro, até que o chef Antônio Pereira disse “brigadeiro” e “asinhas de frango” em uma das cenas. E o personagem não é apenas um personagem brasileiro, mas interpretado por um ator brasileiro de verdade (já que na maioria das vezes, eles simplesmente escalariam um ator latino para isso). O ator é Rodrigo Massa, 32 anos, natural de São Bernardo do Campo, interior de São Paulo.

Rodrigo também é cantor, compositor e apresentador de TV, que se mudou para a Cidade do México em busca de seus sonhos. Massa participou de mais de 150 campanhas publicitárias no México, El Salvador, Honduras, Guatemala, Uruguai e Estados Unidos. Ele também apresentou vários programas de TV, atuou em filmes como o de maior bilheteria de todos os tempos no México, Instructions Not Included, e novelas mexicanas como The Color of Passion e Like la leyenda. Recentemente, Massa também pode ser visto em programas como Resident Alien, The Flash e filmes para TV americanos.

Wave conversou com Rodrigo sobre sua carreira, seu personagem Antonio e muito mais.

ENTREVISTA COM RODRIGO MASSA

WAVE – Quem veio primeiro o ator ou o cantor?
RODRIGO – Ao contrário do que as pessoas que conhecem minha carreira podem pensar, o cantor veio primeiro. A música sempre foi uma grande parte da minha vida. Lembro-me de comprar vinis e CDs e demorar para rasgar com cuidado a capa plástica, abrindo-os devagar, e depois me trancando no quarto para descobrir e saborear cada nova música, cada surpresa escondida dentro daquele meu novo tesouro.

Quando decidi seguir a carreira artística, a primeira coisa que fiz foi ir a um estúdio para gravar algumas das canções que escrevi durante vários anos. Fiz alguns pequenos shows, tive algumas reuniões com gravadoras, mas nada realmente aconteceu por lá. Até que um dia um fotógrafo me disse que eu deveria pensar em entrar para uma agência de modelos. Segui seu conselho, comecei a fazer audições, principalmente para comerciais, comecei a agendar muitos desses comerciais, e foi aí que dei meus primeiros passos como ator.

WAVE – Por que você decidiu deixar o Brasil para seguir carreira de ator no exterior?
RODRIGO – Acho que o principal motivo foi que eu queria estar longe de todos que eu conhecia, e de possíveis comentários críticos da minha família e amigos, visto que eu havia decidido seguir uma linha de trabalho não tão ortodoxa, que muita gente não entende. Eu só queria um recomeço, em um lugar onde pudesse me reinventar e descobrir quem eu queria ser como artista. Além disso, eu estava muito familiarizado com o show business mexicano. É uma indústria enorme e muito empolgante da qual eu queria fazer parte.

WAVE – Você se mudou para o México por causa de sua carreira?
RODRIGO – Exatamente. Sempre tive contato com as produções da TV mexicana, como todos os brasileiros da minha geração, que cresceram assistindo a programas como El Chavo Del 8, Chapolin Colorado, María La Del Barrio, etc. com a produção musical mexicana que decidi que queria fazer parte desse mundo. Seus artistas pop eram muito próximos do tipo de música que eu escrevia naquela época. Nesse sentido, o México foi mais uma combinação musical para mim do que o Brasil.

WAVE – Por você ser latino, você se considera estereotipado?
R: Não aconteceu até agora. Já interpretei muitos personagens latinos, mas acho que minha aparência é um pouco ambígua, então tenho muitas oportunidades de interpretar personagens de origens completamente diferentes. E isso mantém as coisas interessantes. Eu me sinto muito abençoado por poder ir do americano que está visitando o México pela primeira vez no Merry Textmas da Lifetime para Antônio (The Spencer Sisters), um personagem que está muito mais próximo da minha cultura e da minha zona de conforto. E depois voltei a retratar um personagem não latino em meu próximo longa-metragem, Cheat. Também gosto que haja muita variedade nos projetos dos quais participei. Drama, comédia, suspense, terror. E eu amo não saber o que vem a seguir.

WAVE – Como surgiu seu papel em The Spencer Sisters? O personagem Antônio era originalmente brasileiro ou eles adaptaram para você?
RODRIGO – Eles estavam procurando um latino para interpretar Christian (nome original de Antônio). Fiz o teste e consegui o papel imediatamente, o que era incomum, já que grandes shows como este quase sempre têm um ou dois retornos de chamada.

A princípio o personagem não era brasileiro. O espanhol era sua língua materna, mas a nacionalidade não estava bem definida. Quando fui confirmado para a série, os roteiristas e produtores decidiram que faria sentido ele ser brasileiro. Até recebi uma ligação pedindo sugestões de nomes. Eu dei a eles vários, inclusive Antônio, que acabou sendo a escolha final.

WAVE – O que significa para você interpretar um personagem que é um chef de sucesso, gay, casado com um policial negro criando uma filha em um programa do horário nobre?
RODRIGO – Uma filha asiática, devo acrescentar. Minha família na tela tem tudo a ver com diversidade e inclusão, e eu adoro isso! Acho que isso torna nossos personagens e a série ainda mais memoráveis. Vindo da América Latina, onde esses personagens não são tão comuns quanto nos Estados Unidos e Canadá, fiquei muito agradecido por ter essa oportunidade de desempenhar um papel que não se parece em nada com qualquer coisa que já interpretei na TV mexicana.

WAVE – Como é trabalhar com Lea Thompson e Stacey Farber?
RODRIGO – Stacey (Degrassi: The Next Generation, 18 to Life, Saving Hope, Virgin River, Superman & Lois) é um amor. Ela é fácil de se conviver, tem uma energia muito fria, pé no chão e pronta para qualquer desafio.

Eu esperava me sentir muito intimidado por Lea, dada a sua carreira extraordinária (filmes trilogia Back to the Future, Howard the Duck, Dennis the Menace, séries de TV Caroline in the City, Switched at Birth, The Goldbergs). Mas ela me fez sentir muito confortável no set desde o primeiro dia. Eu adoro isso, já que ela também é diretora, ela me dá algumas dicas e sugestões de vez em quando.

Juntos, eles são fogo. O timing cômico deles é insano. E adoram improvisar, o que sempre mantém as coisas interessantes.

WAVE – No episódio 4, seu personagem era proeminente. O que fez você se sentir o centro das atenções?
RODRIGO – Adorei cada segundo desse episódio. Depois de anos na TV mexicana, vim para o Canadá em 2019 sonhando alto. Mas tive que recomeçar e desempenhar papéis menores como todo mundo. Ser o centro de uma trama com tantas reviravoltas me fez perceber que aqueles sonhos que tive três anos atrás finalmente estão se tornando realidade.

WAVE – Alguma história engraçada de bastidores na série?
RODRIGO – Eu me lembro do episódio 4 (The Restauranteur´s Ruin), onde Victoria (Lea Thompson) e Darby (Stacey Farber) continuam mentindo para Zane (Thomas Antony Olajide) porque eu pedi a elas. A maioria dessas mentiras foi improvisada. Foi quando percebi pela primeira vez como a química delas é perfeita. Eles estavam tão sincronizados. Thomas e eu tivemos dificuldade em estar ao lado delas e não rir.

WAVE – Quanto tempo geralmente leva para um episódio ser filmado? Vimos que é filmado em Winnipeg. Você vai lá por várias semanas ou meses para filmar os episódios?
RODRIGO – Estávamos gravando um episódio a cada dez dias, aproximadamente. Passamos cerca de três meses morando em Winnipeg ou indo e voltando dependendo da frequência com que estávamos no set.

WAVE – Por que Antônio costuma usar aquele lenço no pescoço?
RODRIGO – A figurinista me contou que se divertiu muito comprando roupas para o Antônio. Os produtores queriam muitas cores, estampas marcantes, para representar a alegria dos brasileiros. Eles não pediram o lenço, mas ela decidiu adicioná-lo no último minuto. Ela me disse que estava torcendo para que aceitassem, porque ela queria muito que o Antônio tivesse uma roupa bem característica, algo seu. E no final acabaram amando!

WAVE – Se te largassem na cozinha do restaurante do Antônio, você saberia cozinhar?
RODRIGO – Acho que me sairia bem. Nunca fui de cozinhar, mas há três anos me tornei vegano e tive que aprender muito. Porque se eu não aprendesse a preparar pratos mais elaborados, rapidamente me cansaria de tofu e verduras todos os dias. Compartilho vídeos no Instagram o tempo todo, mostrando algumas das minhas criações na cozinha. Quando cozinho para convidados aqui em casa, as pessoas gostam muito da minha quiche, da minha berinjela à parmegiana, da minha pakora e do meu bolo de banana.

WAVE – Sobre sua carreira musical, algum plano para um próximo álbum? Você escreve suas músicas?
RODRIGO – Sim, eu escrevo todas as minhas músicas. E sim, há um álbum chegando este ano. Até agora, temos 20 faixas, em espanhol, português, inglês e polonês. E será bem eclético com muitas influências diferentes: pop, sertanejo, eletrônico, reggaeton, bachata… Haverá também um álbum de remixes, que estamos preparando junto com DJs incríveis de todo o mundo.

WAVE – Há algum projeto futuro? Quais são eles?
RODRIGO – No momento, estou no meio da minha primeira turnê. Visitarei o México, Brasil, Equador, Bolívia e, em seguida, encerrando com dois shows no Winnipeg Jazz Fest em junho. Também estrearei meu novo longa-metragem Cheat este ano, produzido pela Matchbox Pictures e dirigido por Greg A. Sager.

WAVE – Que conselho você daria a um novo ator querendo uma carreira na América do Norte?
RODRIGO – Eu diria para pensar fora da caixa. Em relação não apenas ao aspecto administrativo de sua carreira, mas também à sua abordagem para audições e desenvolvimento de personagens. Para minha carreira, tomei decisões muito inusitadas que acabaram mudando minha vida (sair do Brasil para seguir carreira no México, sair do México para recomeçar no Canadá quando minha carreira estava florescendo etc.). E para audições, você deve sempre pensar em pelo menos algumas escolhas interessantes que ninguém mais trará para a mesa.

WAVE – Há algo que você gostaria de acrescentar?
RODRIGO – Convido a todos a conferirem meus videoclipes, vlogs de viagens e cenas de alguns de meus filmes e programas de TV no meu canal do YouTube @rodrigomassaoficial.

Além disso, deixe um comentário no meu último post no Instagram (@soyrodrigomassa) dizendo que você leu minha entrevista na Wave (até o final, obrigado!) e eu ainda responderei com um memorando de voz!