
Marise Fonte, 38 anos, nunca tinha imaginado morar de vez no Canadá, muito menos em um lugar predominantemente rural, de apenas cerca de 22 mil habitantes. Ladner é uma pequena vila com fazendas e cara de interior que, junto com Tsawwassen e Delta do Norte, forma a cidade de Delta, a cerca de 30 quilômetros de Vancouver. “Brinco que vivo na roça, mas adoro aqui! Tem tudo o que preciso no dia a dia, como mercados, lojas, hospital, parquinhos e escola. Além disso, é extremamente perto de Vancouver, o que me permite ir para lá sempre que quiser”, diz. Ladner é a comunidade mais perto de Tsawwassen, que é onde se encontram as terras da Primeira Nação Tsawwassen (TFN).

A brasileira, que hoje trabalha com consultoria de imigração, conta que uma amiga falou de uma vaga de trabalho em uma organização para pessoas com deficiência em Calgary (AL) e ela se inscreveu para concorrer. “Como eu já havia trabalhado de au pair e em navios de cruzeiro nos Estados Unidos, acredito que era qualificada para a função, e me chamaram em 2011.” Já no Canadá com um visto de trabalho, ela conheceu seu atual marido, o coreano Ian, com quem começou a namorar. Então, eles ficaram sabendo que poderiam fazer o processo para imigrar pelo processo Canadian Experience Class (CEC), e passaram a ficar definitivamente no país, casando-se depois de dois anos juntos. “Na época, não existia Express Entry. No meu caso, bastava ser qualificada e a Residência Permanente era garantida. Por isso foi super fácil para mim”, explica Marise.

Hoje com duas filhas, Ariel e Kiara, a consultora conta que Ian acabou vendo uma oportunidade de abrir um restaurante em Ladner e foi – depois de uma estadia em Abbotsford – com toda a família para lá em dezembro de 2018. “No início foi um uma grande diferença, pois eu adorava Calgary, que era uma cidade bem maior, mais urbana e com muitos atrativos para a família. A única coisa que me incomodava era o frio extremo. Agora, a vida é muito mais pacata, quase nada acontece, mas eu adoro essa tranquilidade”, diz Marise.
Vida em Ladner e Tsawwassen
A brasileira explica que enquanto Ladner é reduto de grandes propriedades, fazendas e mansões, Tsawwassen está em uma crescente de condomínios residenciais e comércio, que só podem ser construídos lá por meio do Tsawwassen Land Act, que permite que parte das terras aborígenes, que pertencem à TFN, seja alugada por um período de 99 anos a empresas e outras pessoas, para depois voltar para as mãos dos donos originários. Dessa forma, as primeiras nações Tsawwassen podem administrar as próprias terras, recebendo o dinheiro pelo uso delas sem perdê-las por definitivo. “Com isso, é possível comprar casas com preços um pouco menores nessa área, apesar de o mercado mobiliário estar em alta. É lá que fica também um grande outlet”, conta.
Em termos financeiros, Marise conta que a região não é das mais baratas, exatamente por atrair pessoas com grande poder aquisitivo e investidores. Lá também não há um grupo de brasileiros “Eu conheço poucas pessoas que não sejam canadenses aqui”, diz ela. Para quem pensa em imigrar para o Canadá e está em busca de um lugar para viver, a consultora afirma que é preciso pensar no que é prioridade. “Aqui, por exemplo, não tem trem, como em outras cidades periféricas de Vancouver. Então, para quem depende de transporte público, tem de pegar ônibus para outra cidade e de lá pegar o trem. Já quem tem carro, em 40 minutos está no centro de Vancouver”, conta. “Eu acho que aqui é para quem já esteja no país há mais tempo e queira tranquilidade ou um lugar para criar os filhos”, completa.
Dentre os atrativos para as famílias, ela aponta a grande variedade de opções de lazer, como parquinhos, piscina pública, rinques de patinação, locais de trilhas e piqueniques, e prainhas. Lá também funciona uma feira de produtores locais durante o verão. No inverno, as luzes de Natal enfeitam toda a comunidade, criando uma sensação de magia e aconchego, além de o clima ser ameno. “Dizem que tem 40% mais dias de sol do que em Vancouver, o que é uma vantagem”, brinca a brasileira. Já em Tsawwassen, as belezas naturais, a história da Primeira Nação Tsawwassen e os investimentos na região tornam o local encantador.
Como um fator negativo, Marise ressalta a grande alta do mercado imobiliário, que está expulsando as famílias tradicionais da região, que estavam lá há gerações e acabam saindo pela alta geral dos preços. Não era assim antigamente, já que a comunidade surgiu como um local de pescadores. Ela também conta que mesmo estando por lá há três anos, ainda não conseguiu encontrar uma médica de família. Mas, segundo a consultora, os benefícios ultrapassam os problemas, já que a vizinhança calma e amigável, o fato de ter todos os serviços essenciais, além de opções públicas de lazer, e a proximidade de um grande centro fazem de Ladner um ótimo lugar para se viver. “Eu me apaixonei por Ladner e dificilmente saio daqui por opção”, finaliza.
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Esse texto faz parte da série de reportagens “Columbia Britânica não é só Vancouver” desenvolvida com o apoio do Governo do Canadá, através do programa “Local Journalism Initiative (LJI)”, iniciativa responsável por fomentar a criação de produções jornalísticas sobre comunidades de todo o Canadá.

