Adaptação e vida em Chilliwack, na Colúmbia Britânica

Cidade que fica a cerca de 100 quilômetros de Vancouver tem custo de vida mais barato e lazer ao ar livre

A cidade de Chilliwack (direita) fica a 100 kms de Vancouver (esquerda)

É comum ouvir que existe brasileiro em todo lugar do mundo. Nos grandes centros do Canadá, como Toronto, Ottawa, Montreal e Vancouver, a comunidade brasileira é enorme, mas quando a gente se depara com pessoas do Brasil morando em cidades menores, acaba surgindo a pergunta: “O que será que fez com que ela fosse parar ali?” Menos conhecidas fora do país, as pequenas e médias cidades podem ser boas alternativas para quem quer moradias mais espaçosas, contato com a natureza e menor custo de vida. Foram esses elementos que atraíram o casal Fabylane de Carvalho, 31 anos, e Davi de Carvalho, 34 anos, para Chilliwack, a cerca de 100 quilômetros de Vancouver. “Aqui conseguimos comprar uma casa para viver com mais espaço e tranquilidade”, conta Fabylane.

Fabylane e Davi de Carvalho optaram por se estabelecerem em Chilliwack. (Foto: arquivo pessoal).

A região é conhecida pelas áreas naturais e por ficar no vale do rio Fraser, local de abundância de salmão. Pesca e atividades aquáticas são comuns não apenas no rio, mas também no lago Cultus. Com cerca de 70 mil habitantes, Chilliwack conta com lojas, restaurantes e supermercados espalhados em bolsões comerciais. A relativa proximidade de Vancouver (de uma a duas horas de carro) também é algo que facilita a ida para a cidade daqueles que não queiram estar completamente isolados dos maiores centros urbanos, mas precisem gastar menos com moradia.

De Natal para Chilliwack

O casal Fabylane e Davi de Carvalho relatam que apesar de Chilliwack não ter sido a primeira opção de destino quando pensou em mudar para o Canadá, o estilo de vida encontrado lá se adequa muito mais ao que buscava. (Foto: arquivo pessoal)

São diversas as razões que levam brasileiros a procurarem o Canadá para viver, como mais oportunidades na carreira, qualidade de vida e mais segurança. A história de Fabylane e seu marido não é diferente. Os dois já haviam passado por situações de violência em Natal, de onde são, – como assaltos e roubos a familiares –, o que os deixava extremamente inseguros e com vontade de proporcionar uma vida diferente para os futuros filhos – o primeiro já a caminho, na barriga da mãe, que está com cinco meses de gravidez. Além disso, ela, que é publicitária, e ele, desenvolvedor de sistemas, se viam estagnados profissionalmente. Depois de conversarem com um conhecido que já havia emigrado e de se informarem sobre os processos para conseguir um visto de trabalho, eles se animaram a também tentar a vida em terras canadenses.

O processo de imigração

O processo escolhido por eles para imigrar foi o BC Provincial Nominee Program (BC PNP), que é um programa de imigração provincial da Columbia Britânica, em que profissionais desejados pelo mercado podem receber um certificado para aplicar para a residência permanente. “Nosso amigo havia contado sobre o Global Talent, em que empresas convidam profissionais que precisam para trabalhar, mas não conseguimos por este meio. Acabamos vendo a lista de profissões que a província buscava e a do meu marido estava entre elas. Então, ele contratou ajuda para arrumar seu currículo e começou a enviá-lo para todas as empresas em que via vagas abertas em sites de emprego canadenses. Eram uns 20 currículos por dia”, conta a publicitária. Depois de três contatos de possíveis empregadores canadenses, Davi foi selecionado por uma companhia localizada em Burnaby, na grande Vancouver.

Adaptação e vida em Chilliwack

Quando chegaram no país, em 2018, ficaram nos arredores de Vancouver e perto do trabalho de Davi, na cidade de New Westminster, em um apartamento. “O local era bom, mas estávamos mais acostumados a morar em casa, o que era mais difícil de achar com nosso orçamento. Queríamos mais espaço e conforto”, conta Fabylane. O casal está há apenas três meses em Chilliwack e, apesar de esta não ter sido a primeira opção de destino quando pensou em mudar para o Canadá, o estilo de vida encontrado lá se adequa muito mais ao que buscava. O fato de a pandemia transformar o trabalho dos dois em remoto – ela atua na área de vídeo e de marketing – auxiliou a tomada de decisão por se afastar ainda mais de Vancouver: primeiro foram para Coquitlam e, procurando na internet por opções mais econômicas de casa, se depararam com Chilliwack.

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Além das razões já citadas anteriormente – como menor custo de vida e proximidade de Vancouver –, a potiguar (nascida no RN) elenca como atrativos da cidade o fato de encontrar tudo o que precisa em termos de marcas, produtos e serviços, a natureza exuberante e a comunidade acolhedora. “Sinto que estou em uma cidade do interior mesmo, em que as pessoas conversam com a gente no mercado, falam bom-dia e nos tratam com respeito. Também tem um grupo de brasileiros aqui com pessoas incríveis. O Davi já organizou times para jogar futebol, uma de suas maiores paixões”, conta. Muitos desses brasileiros estão na cidade há bastante tempo e todos se ajudam e promovem encontros para matar as saudades do Brasil.

A segurança é também um dos pontos altos. “Acho que, como brasileira, muitas vezes a gente naturaliza a violência e colocamos a culpa em nós mesmos por não termos sido precavidos. Poder sair na rua e dormir à noite sem medo é uma sensação incrível”, diz Fabylane, que também ressalta a grande quantidade de opções gratuitas de lazer, que vão desde explorar as belezas naturais até atividades na biblioteca da cidade. “Ter uma família é algo custoso no Brasil. Aqui, além dos serviços públicos, há muito o que fazer com as crianças sem precisar gastar.”

O lado ruim de Chilliwack, segundo ela, é o fato de somente haver um hospital e um lugar para exames na cidade. “A infraestrutura é menor do que em Vancouver e não temos opção nesses casos. Agora que estou grávida, gostaria de ser atendida por uma midwife (parteira), mas já não há ninguém disponível”, relata. Ela também diz que dá para ver que é um lugar com menos diversidade de pessoas, além disso ela não tem uma região central muito atraente, pois precisa de revitalização.

Fabylane diz que os grupos de brasileiros no Canadá nas redes sociais foram de grande ajuda durante todo o processo de imigração dela e do marido para tirar dúvidas e saber mais sobre a vida no novo país. Ela conta que existe inclusive um grupo (privado) de brasileiros em Chilliwack no Facebook. Para tomar a decisão por qual lugar procurar para viver, vale entender bem quais são suas prioridades. “Vejo que tem bastante gente que faz questão de estar perto de transporte público ou poder andar para vários lugares, por exemplo. Como temos um carro, nós não sentimos falta de outras formas de transporte. Além disso, gostamos de uma vida mais tranquila e sem a agitação da grande cidade”, afirma a publicitária.

Ela percebe que há uma procura maior por casas na cidade por conta da transformação de muitos empregos em vagas remotas. Hoje, trabalhando remotamente para uma organização não governamental, Fabylane vai uma vez por semana para Vancouver, mas diz que isso não é um problema, pois leva em torno de um hora no trajeto de carro. Ela não sabe como será quando tiver de voltar ao formato totalmente presencial. “Mesmo tendo comprado uma casa aqui em Chilliwack, podemos mudar se houver oportunidades e também para conseguirmos uma casa com mais espaço de jardim, já que atualmente moramos em uma townhouse (casa com menos espaço de quintal). De qualquer forma, não queremos retornar para a vida com menos qualidade e em um apartamento menor.” Parece que, mesmo fazendo pouco tempo em que está vivendo Chilliwack, o estilo de vida combina muito bem com o casal.

COMO FUNCIONA O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO ATRAVÉS DO BC PNP

Trata-se de um processo de imigração da província de Colúmbia Britânica em que há uma lista de profissões em demanda. Uma empresa canadense que esteja precisando de profissionais que se encaixem nessa lista e encontre essa pessoa fora do país pode entrar no processo junto com o imigrante para que ele obtenha o visto de trabalho e a residência permanente, conseguindo levá-lo para trabalhar em sua empresa no Canadá.

No caso de Fabylane e Davi, ele enviou currículos para empresas canadenses e uma delas o escolheu. Então, ele se cadastrou no processo e a empresa também deve colocar as informações necessárias e seguir as diretrizes para informar o governo. Com isso, o casal foi para o Canadá com o visto de trabalho do marido e um ano depois já conseguiram a residência permanente. “O processo não é fácil. Passei muito tempo tentando entender todas as etapas e foram muitos currículos enviados até conseguirmos uma oportunidade. Também acredito que tivemos sorte por ser um processo não muito conhecido quando aplicamos. Mas pudemos ver que há várias formas de tentar imigrar”, diz Fabylane.

Ela também conta que, no caso do Davi, a língua não foi um entrave para que ele conseguisse o emprego, mas dificultou um pouco o processo. “Ele conseguia se comunicar, mas não tinha um inglês avançado. Então, em uma das entrevistas feitas por telefone, ele não conseguia entender o que perguntavam e não foi recrutado, o que o deixou extremamente frustrado. Mas para a empresa que o contratou, suas habilidades técnicas foram mais relevantes”.

Saiba mais sobre o programa de imigração BC PNP (informações oficiais, em inlgês)



Esse texto faz parte da série de reportagens “Columbia Britânica não é só Vancouver” desenvolvida com o apoio do Governo do Canadá, através do programa “Local Journalism Initiative (LJI)”, iniciativa responsável por fomentar a criação de produções jornalísticas sobre comunidades de todo o Canadá.

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