Brasil – Excepcionalidades

Por Rogério Silva, diretor de jornalismo da TV Paranaíba, afiliada Record em Minas Gerais e da Rádio Educadora FM. É também professor de Jornalismo na Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação.

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Por Rogerio Silva

Intenções são mais substanciais do que fatos durante um período de campanha eleitoral. Vejamos, portanto, o caminho trilhado de agora até 7 de outubro próximo, data das eleições gerais no Brasil. Mais de uma dezena de presidenciáveis bem intencionados e que, por circunstâncias convenientes, deixam à margem a realidade que impede as devidas concretizações. Tratam isso como excepcionalidades, a exemplo da proposta de melhor distribuição de renda sem triscar em reforma da previdência. É que falar em dinheiro para os pobres é bom. Mas mencionar alterações na aposentadoria é ruim, afugenta votos. Outra excepcionalidade é combater a violência, o tráfico de drogas e o crime organizado sem aumentar imposto e gerar novo peso ao contribuinte. A conta não fecha e, mais uma vez, é conveniente falar de uma sem se desgastar com a outra.

No panteão dos planos de governo desfilam intenções que fazem brilhar os olhos dos eleitores. É que o Brasil convive com tantas agruras que uma mente fantasiosa de marqueteiro encontra pincéis de todas as cores para pintar soluções das mais descabidas. Na Esplanada dos Ministérios – quase 40 no Governo Dilma – muitas promessas de redução drástica de pastas: 20, no máximo. O pretenso presidente esquece-se dos conchavos que fez com a esquadra de partidos políticos para viabilizar sua candidatura. Cada um dos nove partidos que formam sua chapa quererão a parte que lhes cabe nesse latifúndio. Mas isso é apenas uma excepcionalidade. Não convém discuti-la agora.

Quase 150 milhões de brasileiros estarão aptos a exercer o voto em 2018. Mas essas práticas políticas que tanto nos fazem desacreditar nela geram o fenômeno da abstenção intencional. A Justiça Eleitoral está preocupadíssima com isso. É que o balanço mais recente contabiliza 7 milhões a mais de eleitores em relação ao pleito passado. Porém os que não têm a obrigação de votar – jovens de 16 e 17 anos – encolheram 240 mil. Não é uma excepcionalidade, pode ser tendência. Quando se retira a obrigação do voto, a população de eleitores recua.

Democracia é ferramenta cara e o modelo está desgastado justamente pelas práticas de campanha dissociadas do jeito de governar. Elege-se uma ideia, uma paixão, uma bandeira. E quem governa se senta na cadeira cheio de limitações. Mas não sabia que era assim antes de se colocar à disposição do eleitor?

O comportamento político no Brasil é cheio de excepcionalidades porque a nossa história se mostra assim. Desde a retomada do voto direto para presidente, com a instalação da chamada Nova República, apenas 2 presidentes começaram e terminaram seus mandatos. Em 33 anos, uma morte e dois impeachments. A figura do vice-presidente merece um olhar mais atento. Na campanha desse ano há mulheres vices, um general vice, uma indígena vice, há também políticos vices com cargo legislativo, habilidosos no trato com o Congresso. O brasileiro vai às urnas e enxergará na tela as fotos dos dois: o titular e o vice, que pode vir a exercer o papel do titular – é sempre bom frisar. Também estarão ali, implícitos, fatos e intenções. Ou, de acordo com a conveniência, meras excepcionalidades.

É, ou não é, um país excepcional?


Rogério Silva é diretor de jornalismo da TV Paranaíba afiliada Record TV em Minas Gerais (Brasil) e da Rádio Educadora FM. É também professor de jornalismo da Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação – ESAMC.

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