
Formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro em arquitetura e urbanismo e na Universidade Estácio de Sá em design gráfico, a brasileira Maria Júlia Guimarães conquistou o seu BFA na Concordia University em Montreal. Em seu currículo, entre outras atividades, trabalhou 9 anos na TV Globo do Rio de Janeiro como produtora de efeitos visuais e animações e gestão de projetos. Já no Canadá, Maria Júlia atuou em Montreal na área do design. Foi diretora de arte e multimídia, além de atuar na experimentação, pesquisa e inovação.
Em dezembro de 2018, com a participação dos doutores Patrícia Braga e Henry Cheang, Maria Júlia Guimarães fundou em Montreal a empresa Totum Tech. Em apenas dois anos, a Totum Tech já atrai e agrada diversos especialistas do setor. Além de suas atividades como empreendedora canadense, Maria Júlia mantém seus laços com a comunidade brasileira, tendo sido uma das fundadoras do Centro de Integração Brasil-Quebec em outubro de 2017.
Wave – Fale um pouco de sua vida pessoal e de sua decisão de vir para o Canadá.
Maria Júlia – Sou natural do Rio de Janeiro e vim para o Canadá em julho de 2009 com meu marido e 2 filhas. Tenho uma tripla formação: sou arquiteta, designer gráfica, ambas graduações feitas no Brasil, e aqui em Montreal me formei em Belas Artes, especialização em Artes Computacionais. Mudei-me para o Canadá em busca de uma melhor qualidade de vida para mim e para a família. Tinha vontade de morar fora do Brasil desde a adolescência e conhecer outros horizontes. Em 2005 foi quando conheci o programa de imigração para trabalhadores qualificados do Canadá e começamos então a nos planejar para a tão sonhada mudança, o que veio acontecer em 2009. Desde então moramos em Montreal, local ao qual nos adaptamos bem e gostamos muito de viver.
Wave – Mesmo com toda a sua experiência no Brasil, como foi o seu ingresso no mercado de trabalho do Canadá?
Maria Júlia – Como acontece para vários imigrantes, o ingresso no mercado de trabalho foi suado e exigiu muita dedicação e perseverança. O reconhecimento da minha experiência anterior no Brasil não aconteceu de imediato. Fui trilhando minha experiência através do voluntariado e trabalhos como freelancer. Retornei aos estudos na Universidade Concordia, fato que me conferiu minha terceira formação e abriu diversas portas. Mas o mais importante foi a rede de pessoas incríveis que conheci nesse percurso, certamente elas tiveram um papel crucial no meu sucesso.
Wave – Como surgiu a ideia de criar uma empresa numa área tão especializada e competitiva? Quais os diferenciais da Totum Tech?
Maria Júlia – A ideia nasceu de uma necessidade, que se transformou em uma vontade de usar os recursos tecnológicos em prol do bem-estar a uma grande parcela da população que vive desassistida. Acredito que a tecnologia pode e deve ser usada para desenvolver e promover o bem-estar das pessoas. Sou portadora de algumas doenças auto-imunes, e com elas vem um impacto muito grande na qualidade de vida. Para resolver um dos problemas associados às essas doenças, criei as luvas que atualmente viraram nosso primeiro produto. O diferencial da Totum Tech vem da sua própria missão, que é usar a tecnologia para ajudar as pessoas que vivem com deficiências invisíveis – que não são percebidas facilmente ao primeiro olhar – a superar as dificuldade que suas doenças trazem, além de melhorar a qualidade de vida e aumentar a produtividade no trabalho.

Wave – Um dos principais produtos da Totum são as luvas movidas por inteligência artificial para as pessoas que têm mãos frias. Fale um pouco como elas foram desenvolvidas e quais as suas indicações.
Maria Júlia – O projeto das luvas inteligentes nasceu para resolver os problemas causados pela síndrome de Raynaud, uma das doenças que desenvolvi. Essa síndrome causa uma contração anormal de veias e capilares sanguíneos nas extremidades do corpo quando sou exposta a ambientes frios. Quando acontece uma manifestação da doença, que afeta mãos, pés e até o nariz, essas partes do corpo ficam extremamente frias, ocorre também uma descoloração por causa da falta de sangue, gerando dor e desconforto. Como isso estava afetando inclusive minha produtividade, vi uma oportunidade para criar uma solução tecnológica para me ajudar a trabalhar melhor.
As luvas se aquecem automaticamente quando a pessoa tem mais necessidade e a inteligência artificial as deixa cada vez mais eficientes, oferecendo assim, um conforto personalizado.
Wave – Como tem sido o reconhecimento do mercado e da área tecnológica com as soluções desenvolvidas pela Totum?
Maria Júlia – Recebemos comentários muito positivos de diversos organismos e profissionais do setor. Nossa solução é considerada inovadora e com potencial de trazer benefícios para toda uma grande parcela da população.
Recentemente, fomos indicados como finalistas para o prêmio MTL Tech Awards, promovido pela cidade de Montreal e o organismo Printemps Numérique.
Wave – Além das luvas, quais são os outros projetos da sua empresa Totum Tech?
Maria Júlia – Totum Tech é uma startup que está nos estágios de desenvolvimento do produto, por isso estamos trabalhando de corpo e alma nesse projeto das luvas. Porém, como a nossa missão é fazer uso da tecnologia para ajudar as pessoas que vivem com doenças invisíveis, no futuro prevemos trabalhar em outros aparelhos e algoritmos para outros casos de pessoas não assistidas nas suas necessidades.