Na subida do morro. Entrevista com Janine Cardoso

Janine Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Escalada Esportiva, quer ver o esporte crescer no Brasil. (Foto na Pedra do Baú, São Bento do Sapuca, SP por Alexandre Cardoso).

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Janine Cardoso, decacampeã brasileira de escalada esportiva e presidente da Associação Brasileira de Escalada Esportiva. (Foto: Pedra da Divisa – São Bento do Sapucaí/SP, por Flávio Castagnari)

 

Nas montanhas do Brasil e do mundo, a paulistana Janine Cardoso nos mostra uma história admirável. Em 2006, a jornalista tornou-se a primeira mulher do país a se classificar para as semifinais da Copa do Mundo de Escalada Esportiva – até hoje, apenas César Grosso, Felipe Camargo e André Berezoski conseguiram a classficação no masculino. Em 2008, foi campeã centro sul-americana. Em 2016, depois de sagrar-se decacampeã brasileira de escalada esportiva na modalidade dificuldade, anunciou sua aposentadoria das competições. “Com o reconhecimento da escalada como esporte olímpico, optei em me aposentar como atleta aos 42 anos, pois sabia que as responsabilidades de gestão da Associação Brasileira de Escalada Esportiva, da qual sou sou presidente e co-fundadora, iriam aumentar exponencialmente. Há mais de 10 anos acompanho os esforços da Federação Internacional para organizar o esporte mundialmente a ponto de alcançar esse ideal olímpico. Para os atletas de todos os países, ainda que num nível de desenvolvimento como estamos no Brasil, será de grande ajuda”, acredita.

Esporte de Fato – Como avalia as possibilidades brasileiras na escalada esportiva nos Jogos Tóquio 2020?

Janine Cardoso: Existem chances, ainda que seja muito difícil, já que concorremos com países como Canadá e Estados Unidos no ranking continental, lembrando ainda do Equador que está fortíssimo também.

A maior chance de classificação para o Brasil, a meu ver, é via seletiva continental, evento que selecionará apenas um atleta de cada categoria – feminino e masculino. De qualquer forma, temos muito que evoluir e temos atletas com potencial de concorrer. Contudo o trabalho profissional tem que começar logo, envolvendo reformulação em todo treinamento, mais vivência de nossos melhores atletas ranqueados em eventos da Copa do Mundo.

Estamos desenvolvimento projetos para 2018 para otimizar o trabalho que já vendo sendo feito de forma sustentável, com extrema seriedade e comprometimento.

Esporte de Fato – Como se iniciou na escalada esportiva?

Janine Cardoso: Comecei a praticar levada pelo meu irmão Alexandre, em 1993, na Pedra Grande, Atibaia – SP. Fiquei fascinada por todo o universo, desde o ambiente, até os desafios de movimentação e balé na vertical. Sempre fui apaixonada por trilhas e montanha, e esportes também. Então uni uma prática esportiva desafiadora ao universo outdoor.

Esporte de Fato – Ao logo de sua trajetória na escalada esportiva, conseguiu se profissionalizar no esporte?

Janine Cardoso: Na realidade, até 2016, quando a escalada tornou-se esporte olímpico, nunca vislumbrei a escalada como uma profissão, apesar de me dedicar como profissional aos treinamentos. No Brasil, busquei muito patrocínio durante uma época – entre 2005 e 2008, principalmente, fiz muitos projetos para tentar me dedicar exclusivamente ao esporte com mais dignidade, então, posso até dizer que me interessei em investir tempo e esforços para viver a escalada de forma mais profissional a partir de 2005, ano em que consegui fechar um patrocínio bem legal com uma empresa de telefonia para correr algumas etapas do circuito da copa do mundo em 2006 (BrasilTelecom). Esse patrocínio me motivou a treinar ainda mais forte para as etapas da copa do mundo, objetivando uma classificação para fases semi-finais de etapas da Copa do Mundo, até então inédita para o Brasil. E nesse ano de 2006, consegui me classificar para semi-finais com uma colocação muito boa – numa delas me classifiquei em 12º lugar entre cerca de 50 atletas de alto nível mundial na modalidade dificuldade. Na outra etapa, fiquei em 16ª no geral, também numa etapa concorrida (em Puurs, na Bélgica).

Esporte de Fato – Dos títulos que conquistou, quais considera mais marcantes?

Janine Cardoso: A conquista do Título de campeã centro sul-americana em 2008 e a primeira vez que me classifiquei para uma fase semi-final da copa do mundo, sendo a primeira atleta brasileira a chegar nessa fase. Mas sem dúvida, o decacampeonato no ano passado é muito marcante para mim, pois me proporcionou uma plenitude para me direcionar com mais energia para o trabalho em prol da organização do esporte.

No mundo, o local mais incrível que eu escalei até hoje é Kalymnos, na Grécia

Esporte de Fato – Como acredita que a escalada esportiva possa se desenvolver como esporte no Brasil?

Janine Cardoso: Existem várias frentes de trabalho, desde o aprimoramento e mais profissionalismo na gestão da entidade que administra o esporte – a ABEE, mais encontros de treinamento de equipe com estudo e investimento em técnicos e treinadores para os atletas de maior destaque, até a continuidade do fomento da modalidade através de campeonatos nacionais bem organizados e eventos regionais /estaduais com workshops para capacitação de juizes, routesseters e treinamento para atletas. Até hoje, todo trabalho é voluntário, e conta com parcerias dos ginásios engajados em motivar atletas através de eventos regionais e campeonatos nacionais. Estamos desenvolvimento projetos para 2018 para otimizar o trabalho que já vendo sendo feito de forma sustentável, com extrema seriedade e comprometimento.

Esporte de Fato – Quais são seus locais prediletos para a escalada esportiva?

Janine Cardoso: No Brasil, é a Serra do Cipó, em Minas Gerais, pela qualidade e variedade de vias, pelo lindo ambiente. Frequento a Serra do Cipó desde 1995 e desde então, encaixo uma viagem para lá pelo menos 1 vez ao ano. No mundo, o local mais incrível até hoje é Kalymnos, na Grécia, pelo estilo variado de vias esportivas, pela beleza da região, pela estrutura da cidade em receber escaladores. São muitos lugares encantadores que escalei no mundo, como Vale Encantado e Piedra Parada, na Argentina, Red River Gorge e Rifle, nos Estados Unidos, Fontainebleau, Ceuse e Marseille, na França, Rodellar e Mallorca, na Espanha… Mas Kalymnos é o meu favorito – já fui duas vezes e pretendo voltar!

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