5X Pacificação e Febre do Rato no Brazil Film Fest

Segundo dia do Brazil Film Fest.

Por DarioPR

OBrazil Film Fest continua essa sexta no Royal com mais dois filmes que vão dar o que falar.  Às 19h00 tem o documentário 5x Pacificação (Peace in Rio), de 2012. E às 21h15, Febre do Rato (Rat Fever), ficção de Cláudio Assis, de 2011.

Cena de 5X Pacificação

Ainda não tive a oportunidade de ver 5X Pacificação, que tem estréia prevista no Brasil para 16 de novembro, mas sei que faz um raio-x das favelas cariocas depois da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O documentário é dos mesmos realizadores de 5X Favela e está dividido em cinco episódios. Em “Morro”, de Cadu Barcellos, habitantes de favelas que já possuem UPPs debatem com pessoas de comunidades onde elas ainda não foram instaladas. Em “Polícia”, de Rodrigo Felha, é abordada a preparação dos novos policiais que vão trabalhar nessas unidades. Em “Bandidos”, de Luciano Vidigal, vários ex-traficantes contam suas histórias e a tentativa de reintegração à sociedade. Em “Asfalto”, de Wagner Novais, os vizinhos de comunidades pacificadas expressam sua opinião, analisando as consequências da implementação das UPPs para a cidade como um todo.

Finalmente em “Complexo” (todos os diretores) é abordada a invasão do Complexo do Alemão realizada pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais da Polícia) em 2010. A princípio o filme não teria o quinto episódio. Entretanto, durante a produção do longa aconteceu a invasão do Complexo do Alemão, o que fez com que os diretores se reunissem e rodassem um novo episódio sobre o tema. Em todos os episódios e sobretudo neste último, “Complexo”, o filme faz questão de não iludir o público com a expectativa de um milagre. A nova política de segurança pública, representada pelas UPPs, é apenas um bem-vindo primeiro passo do Estado na incorporação das favelas cariocas à cidade, no processo para dar a elas um estatuto de plena cidadania.

Matheus Nachtergaele e Irandhir Santos em cena de Febre do Rato

Febre do Rato talvez seja um dos filmes mais polêmicos lançados esse ano no Brasil. Desde que estreou em 22 de junho, vem dividindo opiniões radicalmente. É o tipo de filme que alguns amam e muitos odeiam. Cláudio Assis, pernambucano de Caruaru, tem pautado sua carreira com a marca da ousadia. Um filme seu é sempre uma experiência perturbadora. Foi assim em Amarelo Manga e em Baixio das Bestas, ambos muito premiados. Em Febre do Rato, seu terceiro longa, ele continua trazendo à tona seus incômodos e inquietações. Ano passado o filme recebeu oito prêmios no Festival de Paulínia, entre eles o de melhor filme, melhor ator para Irandhir Santos e melhor atriz para Nanda Costa.

O personagem principal é uma espécie de alter-ego do diretor. Poeta anarquista e marginal de Pernambuco, Zizo (Irandhir em atuação memorável) é responsável pelo jornal Febre do Rato, que ele mesmo escreve, imprime e distribui pela cidade. A expressão “está com a febre do rato” é usada em Recife para designar alguém que se encontra em estado de franco descontrole. Entre uma edição e outra do jornal, muita cachaça, maconha e sexo preenchem os dias de Zizo. Em sua liberdade, ele usa as palavras para provocar e confortar todos a sua volta. Certo dia ele conhece a bela Eneida (Nanda), por quem se apaixona, e não descansa enquanto não a seduz. Em paralelo, outros personagens vão se incorporando à história, é o caso de Oncinha (Vitor Araújo), Boca Mole (Juliano Cazarré), Rosângela (Mariana Nunes) e do coveiro Pazinho (Matheus Nachtergaele). Em meio às comemorações de 7 de setembro, Zizo, que tem o hábito de declamar suas poesias para os amigos, decide realizar um manifesto em pleno centro do Recife.

As várias cenas de nudez e sexo quase explícito, em minha opinião, não são gratuitas nem apelativas, compõem o universo dramático em que habita o protagonista. É interessante observar a forma como os atores se entregam, visceralmente, nos filmes de Cláudio Assis. Todos, sem exceção, se despem de qualquer vaidade ou pudor em prol de seus personagens.

As poesias recitadas são de Miró, um poeta popular de Pernambuco, e conferem um toque de sutileza ao excelente roteiro de Hilton Lacerda. O diretor, em conjunto com o mestre da fotografia Walter Carvalho, optou corajosamente pela paleta em preto e branco, que realça o viés poético proposto pelo roteiro ao mesmo tempo em que cria uma nova polêmica em torno do filme. Mais que uma declaração de amor ao Recife, Febre do Rato é um hino à liberdade. E apesar de ser o mais belo filme de sua obra, não deixa de ser um autêntico Cláudio Assis: vai inevitavelmente chocar e perturbar o espectador. Não importa! Seja para amá-lo ou odiá-lo, precisa e deve ser visto. Eu não perderia por nada.

DarioPR

 

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